Filme do Dia: Onde os Homens São Homens (1971), Robert Altman

 


Onde os Homens São Homens (McCabe & Mrs. Miller, EUA, 1971). Direção: Robert Altman. Rot. Adaptado: Robert Altman & Brian McKay, a partir do romance de Edmund Naughton. Fotografia: Vilmos Zsigmond. Montagem: Lou Lombardo. Dir. de arte: Leon Ericksen, Al Locatelli & Philip Thomas. Figurinos: Leon Ericksen. Com: Warren Beatty, Julie Christie, René Auberjonois, William Devane, John Schuck, Corey Fischer, Bert Remsen, Shelley Duvall, Keith Carradine, Michael Murphy, Antony Holland, Hugh Millais.

John McCabe (Beatty) é um forasteiro que chega em uma cidade mineira, com o prestígio de ter abatido um perigoso valentão. O que McCabe se interessa, no entanto, é em criar um prostíbulo barato para os mineiros. Pouco depois chega a Sra. Miller (Christie), que pretende profissionalizar o negócio, tornando-se sua sócia e fazendo com que invista na melhoria das instalações  e do que será oferecido à clientela. Os negócios vão bem, e o prostíbulo se torna referência local, até o momento em que chegam dois homens, Sears (Murphy) e Hollander (Holland) que desejam por força compra-lo. McCabe se encontra tão embriagado, que mal consegue entabular uma conversa séria com os dois. Miller afirma que ele deve tomar cuidado, pois os dois não brincam em serviço. E logo chega a cidade um capataz deles, Butler (Millais), que diz não pretender mais negociar, com dois auxiliares. McCabe busca auxílio em um escritório de advocacia, e retorna repetindo o que ouviu do advogado (Davane). Porém, o conflito se torna iminente, e ele começa a agir.

Eram tempos de revisão do cinema clássico norte-americano por parte de grandes realizadores, e o western, gênero por excelência associado à cultura norte-americana, não poderia passar incólume pelas mãos de um iconoclasta como Altman. De fato, essa produção inova tanto ao apresentar de forma bem menos glamourizada a cidade do Velho Oeste, como também por em questão a figura antes imbatível do herói, aqui alcóolatra, inseguro e talvez surfando em fama imerecida – Butler afirma sarcástico que McCabe nunca matou ninguém. Esse talvez é bem colocado, já que ficaremos sem sabe-lo até o final, em um jogo de supressões e dubiedades que já pode ser observado no momento final da carreira de seu mais célebre realizador (o John Ford de Rastros de Ódio). Desconstruindo expectativas de se render à violência e aos temas caros ao gênero, em sua primeira metade, aproxima-se mais fortemente desse em sua tensão, e como quase todos os filmes célebres do que viria a ficar conhecida como New Hollywood, imagina-se que McCabe não sairá dessa com vida – tal como outro personagem vivido por Beatty no início dessa nova tendência, em Bonnie & Clyde. Tudo é embalado por  belas canções de Leonard Cohen, elas próprias uma atualização em escala mais tímida de suas equivalentes do cinema clássico. Sua fotografia, vaporosa e realçando cores melancólicas e penumbras, assim como o branco do inverno, é protagonista tanto quanto McCabe. E se Peckinpah se tornou um novo referencial em termos dos limites da violência gráfica com seu Meu Ódio Será Tua Herança, Altman faz o equivalente em termos de uma elaboração intimista. E, de certa forma, pode ter servido para uma reatualização mais recente do gênero, em termos de descolamento de seus princípios básicos, com First Cow, também trazendo René Auberjonois no elenco. De uma maneira geral, afasta-se de referências mais direcionadamente liberal-progressistas como outro revisor do gênero, Arthur Penn (e seu O Pequeno Grande Homem, lançado no ano anterior). Destaque para as digressões sutilmente cômicas como o discurso teórico do advogado, vivido bravamente por Devane, e sua apologia do “lugar ao sol” aos pequenos empreendimento diante dos gigantescos, que bem poderia servir como comentário das próprias produções de Altman em relação ao mainstream hollywoodiano. National Film Registry em 2010. David Foster Prod./Warner Bros. para Warner Bros. 121 minutos.

 

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