Do Blog do Zanin 6: Filme pernambucano A História da Eternidade vence o Festival de Paulínia 2014


Não teve para ninguém e o pernambucano A História da Eternidade foi o grande vencedor do Festival de Paulinia. Ganhou os troféus (Menina de Ouro) de melhor filme, diretor (Camilo Cavalcante), ator (Irandhir Santos) e atriz (dividido entre Marcelia Cartaxo, Zezita Matos e Debora Ingrid), além do prêmio da crítica.
O segundo melhor colocado foi o carioca Casa Grande, de Fellipe Barbosa, com roteiro, ator coadjuvante (Marcelo Novais), atriz coadjuvante (Clarissa Pinheiro) e Prêmio Especial do Júri.
O curta O Clube, de Allan Ribeiro, conseguiu uma rara proeza: levou a tríplice coroa, isto é, recebeu os prêmios de melhor filme do júri oficial, do público e da crítica.
Premiação à parte, cabem algumas palavras sobre o festival.
A boa qualidade dos longas-metragens foi a característica mais marcante desta 6ª edição do Festival de Paulínia. Dos nove selecionados para a mostra competitiva, pelo menos oito vão do bom ao ótimo. Apenas um destoa, o documentário local Neblina, que, no entanto, está longe de ser irrelevante – apenas é equivocado quanto ao rumo escolhido.
Dos outros, pode-se dizer que compõem a mais interessante seleção de um festival brasileiro dos últimos anos. E todos inéditos, o que é sempre estimulante, embora o critério de ineditismo não seja unanimidade entre curadores de festivais brasileiros, por razões variadas. No exterior, entre os grandes festivais, é dogma de fé.
Os concorrentes da última noite – A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante, e Infância, de Domingos Oliveira – colocam-se entre os destaques da mostra. O primeiro, na roda trágica da miséria, da crueldade e também da poesia no sertão devastado pela seca. O segundo, semi-autobiográfico, refaz a memória dos verdes anos do futuro escritor, no mundo da aristocracia carioca dominado pela matriarca (Fernanda Montenegro, em interpretação gigantesca).
Esses últimos concorrentes já haviam sido precedidos por filmes de grande envergadura, como Sinfonia de Necrópole, de Juliana Rojas, Casa Grande, de Fellipe Barbosa, e Sangue Azul, de Lírio Ferreira. Assim como pelos muito interessantes Aprendi a Jogar com Você, de Murilo Salles, e o docudrama Castanha, de Davi Pretto. Mesmo o mais rotineiro Boa Sorte, de Carolina Jabor, tem seus méritos.
Com essa seleção, Paulínia consegue unir qualidade e diversidade. Nota-se nos filmes grande preocupação com o rigor formal, com a subordinação da linguagem cinematográfica àquilo que se deseja expressar. São projetos que vão do rigor da decupagem, como em História da Eternidade e Casa Grande, à criativa intuição cinematográfica de Lírio Ferreira em Sangue Azul. Para quem achava – com toda a razão – que vivíamos um momento particularmente medíocre no cinema brasileiro, esses bons ventos que vêm de Paulínia são um alento.
Sabiamente, para efeitos de premiação, Paulinia não faz distinção entre ficção e documentário, “gêneros”cujas fronteiras estão sendo progressivamente abolidas. Sua separação faz menos sentido do que nunca. Como cada vez mais personagens da vida real estão interpretando a si mesmos, podem perfeitamente concorrer aos troféus de ator e atriz. Basta que os júris tenham a mente aberta para esta possibilidade.
Se os longas foram o ponto alto, os curtas decepcionaram. Sobram poucos a serem lembrados, como Jessy, de Paula Lice, Rodrigo Luna e Ronei Jorge, e O Clube, de Allan Ribeiro, interessantes imersões no universo do transformismo. Alguns quase chegam lá, como O Bom Comportamento, de Eva Randolph, ou Edifício Tatuapé Mahal, de Carolina Markowicz e Fernanda Salloum, mas se perdem ora na complexidade da proposta, além dos meios de realização, ora no esgotamento da inspiração após o início promissor. Outros são mais fracos, alguns chegam ao constrangedor e não merecem ser mencionados. Fica a dúvida: má escolha ou safra ruim?
Por fim, Paulínia busca um equilíbrio interessante ao optar pelo cinema autoral que consegue se comunicar com o público. Não cai no hermetismo e nem em seu oposto, o populismo televisivo. Por outro lado, em sua tentativa de internacionalizar-se, o festival não encontrou rumo definido. Sobrecarregou a programação com pré-estreias sem outro eixo condutor entre os filmes que o fato de pertencerem, quase todos, a uma mesma distribuidora, a Imovision, homenageada no evento pelos seus 25 anos de existência.

Abaixo, a premiaçao completa:
LISTA COMPLETA DA PREMIAÇÃO

Filmes de longa-metragem
Melhor Filme: R$ 300.000: A HISTÓRIA DA ETERNIDADE, de Camilo Cavalcante
Melhor Direção: R$ 50.000: CAMILO CAVALCANTE, por A História da Eternidade 
Melhor Ator: R$ 30.000: IRANDHIR SANTOS, por A História da Eternidade
Melhor Atriz: R$ 30.000: MARCÉLIA CARTAXO, ZEZITA MATOS E DEBORA INGRID, por A História da Eternidade
Melhor Ator coadjuvante: R$ 15.000MARCELLO NOVAES, por  Casa Grande
Melhor Atriz coadjuvante: R$  15.000:  CLARISSA PINHEIRO, por Casa Grande
Melhor Roteiro: R$ 15.000FELLIPE BARBOSA E KAREN SZTAJNBERG, por Casa Grande
Melhor Fotografia: R$  15.000: MAURO PINHEIRO JÚNIOR, por Sangue Azul
Melhor Montagem: R$ 15.000: EVA RANDOLPH, por Aprendi a Jogar com Você
Melhor Som: R$ 15.000: THIAGO BELLO por Castanha
Melhor Direção de arte: R$ 15.000: CLAUDIO AMARAL PEIXOTO, por Boa Sorte
Melhor Trilha Sonora: R$ 15.000JULIANA ROJAS, MARCO DUTRA E RAMIRO MURILO, por Sinfonia da Necropole
Melhor Figurino : R$  15.000JULIANA PRYSTHON, por Sangue Azul
Especial Júri: R$  100.000: FELLIPE BARBOSA, por Casa Grande
Filmes de curta-metragem
Melhor filme: R$ 30.000O CLUBE, de Allan Ribeiro
Melhor Direção: R$ 20.000ALLAN RIBEIRO, por O Clube
Melhor Roteiro: R$ 15.000: CAROLINA MARKOWICZ E FERNANDA SALLOUM, por Edifício Tatuapé Mahal
Especial Júri: R$ 20.000:  O BOM COMPORTAMENTO, de Eva Randolph
Prêmio do Público
Melhor longa-metragem: R$ 50.000BOA SORTE, de Carolina Jabor
Melhor curta-metragem : R$ 20.000: O CLUBE, de Allan Ribeiro
JÚRI ABRACCINE – Associação Brasileira de Críticos de Cinema
Melhor longa-metragem: A HISTÓRIA DA ETERNIDADE, de Camilo Cavalcante
Melhor curta-metragem: O CLUBE, de Allan Ribeiro




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