Filme do Dia: Julgamento em Nuremberg (1961), Stanley Kramer
Julgamento
em Nuremberg (Judgment at Nuremberg,
EUA, 1961). Direção: Stanley Kramer. Rot. Adaptado: Abby Mann, a partir de seu
próprio conto. Fotografia: Ernest Lazlo. Música: Ernest Gold. Montagem:
Frederic Knudtson. Dir. de arte: Rudolph Sternad. Cenografia: George
Milo. Figurinos: Joe King. Com: Spencer Tracy, Burt Lancaster, Maximilian
Schell, Richard Widmark, Marlene Dietrich, Judy Garland, Montgomery Clift,
William Shatner.
Juiz
Dan Haywood (Tracy) é o juiz que comanda uma das sessões dos julgamentos que
ocorrem em Nuremberg, tendo como
acusados juízes que condenaram vítimas
baseados em casos vinculados a discriminação racial, étnica ou mental durante o período nazista. Ele se sente curioso e atraído pela alemã
Bertholt (Dietrich), viúva de um dos
homens executados após julgamento. Os dois saem em mais de uma ocasião, e ela
sempre procura demonstrar a ele que o povo alemão não sabia dos horrores
perpetrados pelos nazistas. Durante as sessões, destacam-se os depoimentos de
Irene Hoffman (Garland), vítima do que afirma ser uma difamação contra sua
pessoa e Rudolph Petersen (Clift), um dos muitos homens que, acusado de
deficiência mental, veio a ser esterilizado. Assim como a eloquência do
advogado de defesa dos acusados, Hans Rolfe (Schell), dotado de uma ainda ainda mais exaltada
sede de reparação que o promotor, o Coronel Ted Lawson (Widmark), possui.
Dentre os acusados se destaca a personalidade do Dr. Ernest Janning
(Lancaster), que passa todo o julgamento silencioso, até efetuar sua mea culpa e também revelar quais foram
os crimes cometidos por seus então companheiros de regime. Mesmo sob imensa
pressão, inclusive da opinião pública alemã, que é majoritariamente contrária
às condenações, Haywood decide punir todos os quatro com prisão perpétua, para
a decepção de Bertholt e a incredulidade da maior parte dos acusados. Pouco
antes de embarcar de volta para os Estados Unidos, Haywood é alertado por Rolfe
que os condenados não ficarão muito tempo na prisão e que Janning pretende
falar com ele. Em sua cela, Janning lhe entrega um livro contendo os antigos
casos nos quais participara como juiz.
Relativamente contido, em termos dramáticos,
ao menos quando comparado a produções semelhantes do período, o filme mantém
sua dignidade de compreensão dos fatos em questão a partir de uma lógica
liberal que busca problematizar o ocorrido dentro dos limites do habitual
maniqueísmo, e que constitui a marca registrada de Kramer enquanto
realizador/produtor. Centrado sobretudo nas sessões do julgamento, intercalados
por breves respiros que distensionam ocasionalmente a atmosfera – em alguns
casos a tensão continua, como é o caso dos encontros entre o juiz e Bertholt –
o filme faz uso de uma câmera circular que rodopia ao redor da pessoa que
testemunha, buscando potencializar, em termos emocionais, os mesmos. Algo que
nem sempre funciona, e ainda menos quando se somam a tais movimentos o uso
frequente de uma das coqueluches da época, o zoom. As interpretações de
Lancaster, a mesma máscara facial de arrependimento praticamente do início ao
final e de Schell, que ganharia o Oscar na categoria de ator principal, algo
inédito para alguém creditado em apenas quinta posição, incorporando um
advogado irascível, passional, beirando o fanatismo, algo que pode ser
compreendido a partir de suas inclinações de simpatia pelo nacional-socialismo,
envelheceram pior que as de Dietrich ou Tracy. O último, aliás, incorpora uma
representação bastante carregada simbolicamente, assim como a de Schell,
representando uma certa bonomia provinciana sinalizando um bom senso com
relação aos valores humanos, que seria a representação americana por
excelência. Já Schell recita monólogos inspirados como o que, tal como uma
metralhadora giratória, acusa não apenas a União Soviética, mas também o
Vaticano, Churchill e industriais americanos de terem apresentado posições
favoráveis a Hitler. A célebre canção da época em que os fatos ocorreram, Lili Marleen,que se tornaria título de
um filme de Fassbinder duas décadas após,
surge cantada pelos soldados alemães e, posteriormente, incorporada pela
própria trilha - sendo que Dietrich a gravara duas vezes – e cantada,
para o juiz. O filme finda com uma cartela que faz menção ao fato de todos os acusados terem sido soltos
na época de sua produção, confirmando o prognóstico do entusiasmado defensor
dos nazistas. Primeira aparição de Garland desde Nasce uma Estrela (1954). A determinado momentos, imagens chocantes
e habitualmente utilizadas de
documentários que flagraram a libertação dos campos e seus cadáveres sendo
empurrados por tratores rumo a covas coletivas são apresentadas no tribunal,
como estratégia do promotor vivido pelo habitual vilão Widmark. National Film Registry em 2013. Roxlom Films
Inc. para United Artists. 186 minutos.
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