Filme do Dia: Boccaccio'70, Federico Fellini, Luchino Visconti & Vittorio De Sica
Boccaccio’70 (Boccaccio’70, Itália, 1962).
Direção: Federico Fellini (As Tentações do Dr. Antônio), Luchino Visconti (O
Trabalho) & Vittorio de Sica (A Rifa). Rot. Original: Federico Fellini,
Ennio Flaiano, Gofredo Parise, Tulio Pinelli & Brunello Rondi (As Tentações
do Dr. Antônio); Suso Cecchi D’Amico & Luchino Visconti (O Trabalho);
Cesare Zavattini (A Rifa). Fotografia: Otello Martelli (As Tentações do Sr.
Antônio, A Rifa); Giuseppe Rotunno (O Trabalho). Música: Nino Rota (As
Tentações do Dr. Antônio, O Trabalho); Armando Trovajoli (A Rifa). Montagem:
Leo Cattozzo (As Tentações do Dr. Antônio); Mario Serandrei (O Trabalho); Adriano Novelli (A Rifa). Dir. de arte: Piero
Zuffi (As Tentações do Dr. Antônio); Mario Garbuglia (O Trabalho); Elio
Constanzi (A Rifa). Figurinos: Piero Zuffi (As Tentações do Dr. Antônio); Piero
Tosi (O Trabalho). Com: Peppino De Filippo, Anita Ekberg, Antonio Acqua, Donatella
Della Nora, Romy Schneider, Tomas Milian, Romolo Valli, Paolo Stoppa, Sophia Loren, Luigi Giuliani, Alfio Vita.
As
Tentações do Dr. Antônio.
O hiper-moralista Dr. Antonio (De Filippo) trava uma luta mortal contra os maus
costumes da sociedade moderna. Uma de suas mais árduas campanhas foi a que
envolveu um out-door de leite com Anita (Ekberg). A figura do out-door ganha
vida e passa a perseguir Antonio; o Trabalho. Otavio (Milian) busca
salvar o casamento com a rica Pupe (Schneider) para sua própria saúde
financeira, após o escândalo noticiado pela imprensa sensacionalista de seu
envolvimento com prostitutas. Após decidir se tornar independente do pai, Pupe
pensa em fazer contatos na ópera, mas decide ser menos trabalhoso ser
prostituta do próprio marido. A Rifa. A cobiçada Zoe (Loren), empregada
de um parque de diversões, é rifada entre oitenta moradores do local. O
vencedor é o tímido sacristão Cuspet (Vita), embora Zoe esteja
apaixonada pelo jovem e belo Gaetano (Giuliani).
Esse
filme em episódios parte do mais criativo para o mais banal. O episódio de
Fellini é uma pequena gema, graças, sobretudo, ao seu apurado senso visual e
humor, herdeiros do universo das histórias em quadrinhos. Seu primeiro filme em
cores, sintetiza elementos de sua fase surrealista, sem os excessos e
repetições de si próprio que tornariam menos interessantes produções
posteriores como Julieta dos Espíritos e Satyricon. Suas cores
exuberantes, sua notável direção de arte e trilha musical em forma de jingle
e os hilários tipos como o protagonista e um comendador cheio de tiques, além
de Ekberg (como uma versão européia de Jayne Mansfield), como sempre
satirizando a si própria, são dignos de nota. O episódio de Visconti que
procura equiparar as relações matrimoniais às comerciais, no universo da alta
burguesia europeia, apesar de um bom senso de ritmo e de um humor sutil que o
acompanha do início ao final soa, ao final das contas, grandemente frívolo
quando comparado com seus melhores trabalhos. Já o episódio que fecha o filme
apenas vem a comprovar o mais completo declínio artístico de um dos maiores
nomes do cinema neo-realista, em uma tola chanchada em que nem mesmo um senso
autoral é percebido, com um sentimentalismo populista que influenciaria Scola e
Monicelli (que, por sinal, possui um episódio que foi excluído para essa versão
em língua inglesa), embora possua igualmente algo de superficialmente
felliniano. É também veículo para que Loren procure se lançar como cantora
(cantando Soldi, Soldi, Soldi ou Money, Money, Money).
Cineriz/Concórdia Int./Francinex/Gray-Film. 150 minutos.
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