Filme do Dia: Violento e Profano (1997), Gary Oldman



Violento e Profano (Nil by Mouth, Reino Unido/França, 1997). Direção e Rot. Original: Gary Oldman. Fotografia: Ron Fortunato. Música: Eric Clapton. Montagem: Brad Fuller. Dir. de arte: Hugo Luczyk-Wyhowski & Luana Hanson. Figurinos: Barbara Kidd. Com: Ray Winstone, Kathy Burke, Charlie Creed-Miles, Laila Morse, Edna Doré, Chrissie Cotterill, Jon Morrison, Jamie Foreman.

Família humilde de quatro gerações de mulheres se vê ameaçada quando Valerie (Burke) passa a ser perseguida pelo marido Ray (Winstone), que a espancara e fizera perder o filho que esperava dele. O irmão de Valerie, Billy (Creed-Miles) que havia sido escorraçado da família e espancado por Ray após uma noitada em conjunto ao fazer uso da droga do mesmo é preso. Toda a família, inclusive Ray, para o desgosto da mãe de Valerie, Janet (Morse), decide visitá-lo na prisão.

O único filme de Oldman como cineasta, o que talvez se deva ao fato de ser fortemente influenciado por sua própria biografia pessoal,  apresenta um realismo cru, de feições naturalistas, que não consegue ir além da armadilha que acaba sendo vítima, a de retratar de forma convincente o estado de constante tensão de uma família de baixa renda britânica. E o faz sobretudo através do linguajar chulo e de interpretações que caem por vezes no limiar da caricatura, como é o caso do próprio protagonista, aproximando-se de uma certa empostação dramática mais evocativa do teatro que da vivacidade das interpretações, por exemplo, de um Cidade de Deus (2003), que também procura traduzir para as telas a situação de párias na sociedade brasileira. Ao mesmo tempo que falta a sutileza dramática de Mike Leigh, tampouco existe um viés social ou político mais amplo para emoldurar os dramas familiares e pessoais retratados tais como o foram, de forma bem mais lancinante, pela geração do free cinema ou por Ken Loach e o posterior This is England (2006).  Outra armadilha, quase inevitável, na qual o filme tropeça, é o de se tornar presa da própria realidade violenta que descreve de modo voyeurista algo que o aproxima, nesse sentido, do filme de Fernando Meirelles, mesmo que aqui não se aplique tal dimensão a uma narrativa construída de modo espetacularizante como no caso do realizador brasileiro, algo que, do seu modo, seu surpreendente final sinaliza em oposição. Porém em vários momentos é o que acaba ocorrendo, como no caso da cena de espancamento de Ray sobre Valerie, por mais que não se apresente explicitamente os chutes sofridos por ela.  Por outro lado a sua não descolagem da realidade imediata que pretende descrever acaba provocando momentos que não vão além de desgastados clichês, como quando Billy revira um apartamento a procura de dinheiro ou algo de valor para poder conseguir dinheiro para as drogas – aliás  um uso completamente distinto e desensacionalizado de imagens de consumo da mesma droga apresentada no filme é o apresentado por Pedro Costa em seu No Quarto da Vanda (2000). Tampouco são menos clichês as tentativas de se apresentar as motivações psicológicas que influenciaram a conduta violenta de Ray, presentes seja no quarto do futuro bebê perdido ou, e ainda mais, no diálogo com o eterno companheiro de baderna sobre a degradação física do pai, no qual surge o termo que dá título ao filme,  lançado no Brasil com  infame título que procura capitalizar em cima de sua violência. Destaque para a então amadora e irmã de Oldman Laila Morse, na sua encarnação da figura de força e bravura diante de situações adversas. Kathy Burke, também em notável interpretação, recebeu o prêmio de interpretação feminina em Cannes. SE8 Group/Europa Corp. para Fox Film Corp. 128 minutos.

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