Filme do Dia: Assim é Que se Ria (1998), Gianni Amelio


Assim é Que se Ria (Così ridevano, Itália, 1998). Direção: Gianni Amelio. Rot. Original: Gianni Amelio, Daniele Gaglianone, Lillo Iacolino & Alberto Taraglio. Fotografia: Luca Bigazzi. Música: Franco Piersanti. Montagem: Simona Paggi. Dir. de arte: Giancarlo Basili. Cenografia: Nello Giorgetti. Figurinos: Giana Gissi. Com: Francesco Giuffrida, Enrico Lo Verso, Rosaria Danzè, Fabrizio Gifuni, Claudio Contartese, Domenico Ragusa
     1958. Giovanni (Lo Verso) vem do interior da Lucânia, sul da Itália para Turim, metrópole do norte. Ao chegar, não é recebido pelo irmão mais novo que, no entanto, o observa. No local onde o irmão mora leva suas coisas após discutir com a família que levanta suspeitas sobre a moral de Pietro (Giuffrida), e sua tentativa de passar por rico. Passando a morar juntos, Giovanni se esforça nos trabalhos mais pesados para sustentar Pietro e seus estudos, mal sabendo ele que o rapaz passa a maior parte do tempo vagabundando pelas ruas e alugando um apartamento caro. Pietro monta uma estratégia para que um funcionário da escola faça-se passar por professor e diga a Giovanni que ele é um excelente aluno. Certo dia, no ônibus, um ladrão tenta roubar uma carteira e deixa-a cair. Pietro fica com a carteira e chama o irmão para jantar num restaurante de luxo. Acanhado, Giovanni recusa. Pietro afirma que pretende abandonar os estudos e ir trabalhar com o irmão no dia seguinte e esse, furioso com a inocência do rapaz sobre os rigores do trabalho braçal, o estapeia. Com muito remorso, Giovanni tenta reconciliar-se com o irmão e lembra sobre como eram amigos, quando mais jovens, e o quanto o pai deles queria mais a Pietro. Quando vai acompanhá-lo até onde mora, finalmente recebe a primeira demonstração de afeto de Pietro, que desaparece por meses. Giovanni vai até à escola e é  preso por desordem. Enquanto isso, Pietro, que conseguira cursar um supletivo, passa em um exame para tornar-se universitário. Mal contendo seu orgulho, procura o irmão para dividir sua felicidade. Após muito tempo, encontra-o  numa espécie de agência de empregos informal e casado com uma ex-prostituta da terra natal deles, Lucia (Danzé), que fora quem iniciara Pietro sexualmente alguns anos antes. Porém a alegria dura pouco. Na mesma noite, Pietro testemunha a morte de um homem pelas mãos do irmão e assume a culpa. Ainda sem ter atingido a maioridade, Pietro, que se encontra num reformátorio, visita Giovanni e família em 1964. Próspero empresário, dono de vários caminhões, Giovanni batiza o filho com o nome do tio. Com aspecto doentio, Pietro despede-se mais uma vez do irmão na estação ferroviária e parte para cumprir sua pena.
Efetivando um tributo ao clássico de Visconti, Rocco e Seus Irmãos (1960), Amelio realizou com competência um melodrama clássico, sem a confluência de estilos e aspectos abordados que notabilizou seu modelo. Amelio centra o foco de sua narrativa única e exclusivamente na relação entre os dois irmãos que, embora semelhante a de Rocco e Simone, diferencia-se dessa no sentido de que a relação de sacrifício aqui é mútua e não unilateral. Uma das conseqüências de tal escolha é a perda da força épica que acompanha a saga da extensa família do filme de Visconti por um mais comedido e tradicional drama, mesmo que os dois irmãos sejam a própria personificação da Itália pobre analfabeta do Sul em contraposição a mais sofisticada do Norte, que tenta fugir do passado e dos laços da tradição. Trabalhando boa parte da narrativa de forma eliptíca, como o motivo do assassinato cometido por Giovanni ou a mudança de caráter de ambos o filme, como o de Visconti,  é dividido em episódios, aqui nomeados de acordo com a trajetória de Giovanni. Sentimental, sem ser abusivo, sustenta-se em grande parte graças as magistrais interpretações de seus dois protagonistas, a notável trilha-sonora e ao belo e soturno estilo visual, que transmite um lirismo que evoca o cinema italiano da década de 1960. Mesmo que tocante, em diversos momentos, seu estilo retrô não é exatamente um sinal de originalidade e pujança para uma cinematografia que já teve bem mais brilho em relação aos tempos em que essa produção se realizou. Leão de Ouro em Veneza. Cecchi Gori Group Tiger Cinematografica/Pacific Pictures. 124 minutos.                           

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