Revendo Conceitos

Nos últimos 19 dias, muita coisa mudou para a candidata à presidência da República pelo PSB Marina Silva, inclusive algumas idéias. Para manter-se na condição em que deve aparecer na pesquisa Ibope/Estadão a ser divulgada hoje, à frente do tucano Aécio Neves e abrindo boa vantagem para a presidente Dilma no segundo turno, Marina está tendo que rever alguns de seus conceitos mais arraigados.
No dia 5 de agosto, então candidata a vice na chapa de Eduardo Campos, a ex-senadora Marina Silva elogiou o decreto da presidente Dilma Rousseff que cria conselhos populares em órgãos do governo, medida que teve uma forte reação contrária do Congresso e da sociedade civil independente.
Para Marina, o decreto era tão bom que foi classificado como uma “medida eleitoral” de Dilma, pois já deveria ter sido editado antes. "A participação da sociedade é algo muito bom em um País como o nosso, com essa dimensão territorial e diversidade cultural. É fundamental que os governos façam coisas com as pessoas e não para as pessoas. Mas isso é para ser feito ao longo de toda uma vida, e não apenas vinculado à eleição. É algo a ser cultivado, independente de ser estratégia eleitoral. É uma inovação na gestão pública".
A ideia era tão boa que foi parar no programa que o PSB estava organizando para o candidato Eduardo Campos, e que agora Marina herdará. O que se buscaria era o “controle social” da política, com a criação de “instâncias próprias para o exercício de pressão, supervisão, intervenção, reclamo e responsabilização”.
Da mesma maneira que o decreto da presidente Dilma foi considerado uma tentativa de aparelhar a sociedade civil, criando conselhos populares que seriam manipulados pelas organizações e movimentos ligados ao PT para passar por cima do Congresso, também a decisão de Marina Silva de se utilizar desses conselhos para ações de “pressão, supervisão, intervenção, reclamo e responsabilização” provocou o mesmo temor, principalmente tratando-se de quem não leva muito em conta os partidos políticos como Marina.
Essa rejeição à “política tradicional”, aliás, é uma das suas vantagens competitivas no atual momento junto a um eleitorado que em sua maioria quer mudanças no país e desacredita dos líderes políticos. Mas, ao mesmo tempo, Marina não pode assumir posições radicais, se não se arrisca a perder um eleitorado mais conservador que quer mudanças, mas não revoluções.
Instada a reafirmar sua posição nesse assunto tão controverso, Marina tratou de dar um passo atrás e disse que o texto a que os jornalistas do Estadão tiveram acesso não havia sido aprovado por ela, e que o programa de governo que será lançado na sexta-feira pretende, isso sim, “valorizar as instituições”.
“O nosso documento fala em aprofundar a democracia, o que significa a valorização das instituições, e que essas instituições e as representações políticas possam estar ligadas à sociedade brasileira”, explicou a candidata. A explicação verdadeira só saberemos quando o texto oficial for divulgado, mas está claro que a Marina candidata já não está tão empolgada com o decreto da presidente Dilma, a ponto de seu vice, o deputado federal Beto Albuquerque, ter dito que controlar representantes eleitos “é muito perigoso”, e que a proposta de sua chapa é bem diferente da de Dilma.
Da mesma maneira Marina está sendo chamada a se posicionar sobre a origem do avião que era usado na campanha por ela e por Eduardo Campos, e caiu no mesmo erro de Aécio Neves ao falar do aeródromo de Cláudio, em Minas. “A explicação será dada no tempo necessário”, disse ela.
O tempo necessário do candidato geralmente não é o tempo do eleitor, do cidadão comum. A própria Marina sabe disso, pois na ocasião cobrou providências, pois achava que havia “fortes indícios de ilicitudes”. E completou, criticando tanto o PT quanto o PSDB: “Eu e o Eduardo Campos estamos lutando contra estes grandes grupos que se alimentam da corrupção. É por isso que cada um tem um mensalão para chamar de seu”.
Hoje, é ela quem está tendo que dar explicações e justamente quando anuncia querer o apoio “da parte boa” do PT e do PSDB para formar um eventual futuro governo. Ao citar o ex-governador José Serra como um desses, Marina deixou no ar uma questão: por que negou-se a apoiá-lo em 2010 no segundo turno?

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