Espaço Itaú de Cinema e os 4 “C”
A
vinheta do Espaço Itaú de Cinema abre com movimento circular, entra o
nome do banco que se afasta numa espécie de zoom out. Finalmente se fixa
o logo do banco/cinema, ao lado do qual quatro objetos vão aparecer
sucessivamente:
uma Cadeira
de lona dobrável, símbolo tradicional do diretor no set. Há fotos
memoráveis de Hitchcock e Fellini nessa cadeira. Imagino que os
diretores não usam mais esse assento, a não ser para ficar diante do
vídeo-assist.
uma Claquete de bater ainda em uso mas em via de ser substituída pela claquete eletrônica.
uma Câmera digital que usa cartões de memória.
A série se encerra com um Carretel, o mesmo que dá circularidade ao movimento de abertura.
Tradicionalmente
o carretel é uma roda na qual a película está enrolada. Ele serve para
transportar e para projetar filmes. No projetor em funcionamento, a
película é puxada do carretel carregado, passa pela janela e vai se
enrolar no carretel de recepção.
O conjunto desses objetos traça o percurso da filmagem à projeção.
O
carretel é hoje obsoleto. As projeções digitais, HD, RCP etc. o
descartaram. Ainda presente em algumas projeções, seu destino é o museu.
Como entender a permanência dessa iconografia na vinheta?
Esses
ícones já conquistaram seu espaço na nossa cultura, eles são rápida e
amplamente inteligíveis. Embora defasados em relação às tecnologias
atuais, eles remetem a uma tradição. Eles funcionam como um selo, uma
garantia de qualidade assegurada pela história do cinema. Essa segurança
da tradição está igualmente presente no lápis que alguns celulares
mostram na página de escrever SMS.
Essa
permanência aponta para outra questão: a dificuldade de criar
imediatamente ícones claros e compreensíveis para tecnologias recentes e
em constante mutação. É frequente novos sistemas manterem signos e
representações de um sistema anterior em via de desaparecimento,
enquanto novos ícones serão gerados lentamente. Como seria um ícone que
representasse uma projeção digital?
Essa
situação parece óbvia e natural. Acredito que não seja tão óbvia. A
questão da permanência / geração de ícones espelha transformações
sociais. E isso se dá num clima de tensão. Os ícones insistirão em
permanecer, vão tentar se adaptar, mas a guerra não está ganha. Exemplo
disso são diversos ícones em plena decadência, como a tela branca
emoldurada de preto, derrubada pelas telas que proliferam na nossa
sociedade. Ou o cone de luz que ligava o projetor à tela. Ou outro ainda
cuja carreira foi brilhante: um pedacinho de película perfurada com
fotogramas assinalados simbolizava o filme, o cinema. Pois ele sumiu.
Mas o carretel, que justamente tinha a função de carregar a película perfurada, ganhou uma sobrevida. Ironia da história.
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