Filme do Dia: Uma Mulher é uma Mulher (1961), Jean-Luc Godard


Uma Mulher é uma Mulher (Une Femme est une Femme, França/Itália, 1961). Direção e Rot. Original: Jean-Luc Godard. Fotografia: Raoul Coutard. Música: Michel Legrand. Montagem: Agnès Guillemot & Lila Herman. Dir. de arte: Bernard Evein. Figurinos: Jacqueline Moreau. Com: Jean-Claude Brialy, Anna Karina, Jean-Paul Belmondo, Ernest Menzer, Nicole Paquin, Marie Dubois, Gisèle Sandre, Marion Sarraut.

Angela (Karina) é uma jovem stripper que não se decide entre o amor com quem vive, Émile (Brialy) e um amigo dele, Alfred (Belmondo). Decidida a ter um filho a qualquer custo, que Alfred não deseja, Angela faz  amor com Émile. Quando Alfred sabe de tudo, decide ter um filho com ela.

Segundo longa-metragem de Godard e sua primeira experiência em cores. O filme já acentua muito do que se tornará um caráter programático de sua carreira posterior, como o desconstrucionismo/tributo aos filmes de gênero clássicos e recusa ao psicologismo e ao naturalismo convencionais, não se furtando a fazerem os personagens serem conscientes de que são personagens mesmo – a certo momento Angela/Karina afirma que queria estar em um musical e, em vários momentos, indaga-se se se trata de uma comédia ou tragédia. Da mesma forma, não são poucas as vezes que os atores se dirigem diretamente para a câmera. Porém, ao contrário do que ocorreu progressivamente em seus filmes posteriores, o faz com uma leveza brilhante, que remete ao próprio universo ingênuo e colorido dos musicais hollywoodianos, ao mesmo tempo se distanciando muito dos mesmos, ao inserir referências diversas, que vão de cultas até a seus contemporâneos de Nouvelle Vague, notadamente o Truffaut de Atirem no Pianista e Jules e Jim (a certo momento, Jeanne Moreau aparece em uma ponta, e um dos personagens indaga se ela ainda se encontra com os dois), Malle (um cartaz de seu Zazie no Metrô) e o próprio Godard (Acossado será exibido na tv). Igualmente dialoga com o deslumbramento, não menos irônico – ainda que por outro viés e mais sutilmente – de Demy com o gênero musical norte-americano. Tampouco Godard se furta em fazer uma análise das relações entre homem e mulher com inaudito bom humor e uma frenética (ao menos em termos godardianos) sucessão de achados. A temática do triângulo amoroso seria revivida de forma mais hermética e em p&b em Uma Mulher Casada (1964). Karina foi melhor atriz no Festival de Berlim, que também concedeu um prêmio especial para Godard. EIA/Rome Paris Films. 85 minutos.


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