Filme do Dia: Cisko Pike (1972), Bill L. Norton




Cisco Pike (EUA, 1972). Direção e Rot. Original: Bill L. Norton. Fotografia: Vilis Lapenieks. Música: Kris Kristofferson. Montagem: Robert C. Jones. Dir. de arte: Rosanna Norton & Alfred Sweeney. Cenografia: Ray Malyneaux. Com: Kris Kristofferson, Karen Black, Gene Hackman, Harry Dean Stanton, Viva, Joy Bang, Roscoe Lee Browne, Antonio Fargas, Doug Sahm, Chuy Franco, Allan Arbus.
Cisco Pike (Kristofferson) é um músico que já teve seu momento de glória e que tem um prazo de alguns dias para conseguir dez mil dólares para um policial corrupto, Leo Holland (Hackman), vendendo maconha que esse roubou de um mexicano (Franco). Pike vive com a namorada esotérica Sue (Black) e reencontra o parceiro de bons tempos, Jesse Dupre (Stanton) em um mau momento para ambos. Com a amizade da filha de um homem rico, Merna (Viva), ele consegue boa parte do dinheiro prometido, tendo outra parte em cheque, do empresário musical canastrão Sim Valensi (Arbus). Holland decide cobrar a dívida enquanto Cisco ainda não se recuperou da morte por overdose do amigo Dupre na casa de Merna. A chegada de uma ambulância para buscar o cadáver de Dupre desencadeia uma reação intempestiva de Holland.
Talvez o maior trunfo desse filme, precário e mesmo involuntariamente cômico em vários aspectos (como na interpretação afetada de Kristofferson, na sua apropriação de uma certa mística do western prá lá de clichê), seja o seu retrato de mocinhos e bandidos “menores”, enredados com outros personagens não menos anônimos, ansiosos por drogas, sexo ou apenas tocarem a vida adiante. Algo que também fica patente no modo um tanto desleixado  como se apresenta visualmente. Esse ambiente que cheira a derrota e a uma boa dose de auto-condescendência certamente foi bastante influenciado por Cassavetes e não apenas no momento que Kristofferson busca sem sucesso reanimar o colega morto por overdose (evocativo de Faces, ainda que aqui numa cena completamente previsível e fake) ou na escolha de Seymour Cassel para viver originalmente o protagonista. Também é evocativo do contemporâneo Cidade das Ilusões, de John Huston, sendo que a certo momento , Viva (uma das ex-musas de Andy Warhol) inclusive faz menção a Los Angeles ser uma “fat city”, título original do filme de Huston,   mera coincidência, já que esse filme foi lançado seis meses antes. Ainda que toda a estrutura narrativa aqui se encontre articulada a um prazo, no caso o que o policial corrupto anunciou no início do filme ao herói, um dos motes típicos do cinema clássico, o filme parece mais próximo de uma ausência de motivação ou  polimorfismo nas ações de seu protagonista mais afinadas com um cinema autoral europeu e nem mesmo seus breves momentos de violência o tornam tão devedor de uma lógica mais associada aos gêneros quanto os filmes mais elaborados de Alan J. Pakula da mesma época. Destaque para Karen Black, atriz típica desse breve sopro de revitalização no cinema norte-americano, vivendo sua personagem habitualmente desmiolada que aliás já havia vivido em Cada um Vive como Quer e, principalmente, Gene Hackman, que consegue injetar uma credibilidade ao seu psicótico personagem sobretudo através de seu expressivo olhar, mesmo correndo o risco da comparação com seu filme imediatamente anterior, Operação França. Filme de estréia de Norton, contou com participação não creditada do célebre roteirista Robert Towne, e também tida com estréia de Kristofferson, mesmo ele tendo feito uma ponta anteriomente em O Último Filme, do ano anterior.  É claro que o filme pretende estimular a relação entre o personagem vivido pelo cantor/compositor e sua própria carreira musical. Não deixa de ser curioso perceber a menção a “lendas” como Hendrix e Joplin (que teve como um de seus maiores sucessos justamente uma composição de Kristofferson), falecidas ainda tão recentemente. Acrobat Prod./Columbia Pictures Corp. para Columbia Pictures. 95 minutos.

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