Filme do Dia: Metido em Encrencas (1988), MIke Nichols
Metido em Encrencas (Biloxi Blues,
EUA, 1988). Direção: Mike Nicohls. Rot. Adaptado: Neil Simon, baseado em sua
própria peça. Fotografia: Bill Butler. Música: Georges Delerue. Montagem: Sam
O’Steen. Dir. de arte: Paul Sylbert. Figurinos: Ann Roth. Com: Matthew Broderick, Christopher Walken, Corey
Parker, Matt Mulhern, Mitchell Dolan, Penelope Ann Miller, Park Overall.
Na
Segunda Guerra Mundial, Eugene (Broderick), com tendência para escrever, é
deslocado de Nova York para Biloxi, Mississipi, onde deverá preparar-se para
participar na ofensiva à Europa nazi-fascista. Seu melhor amigo torna-se o
efeminado e também judeu Epstein (Parker). Ambos são vitimas da raiva do
sargento Toomey (Walken), que sente-se humilhado com a origem e aparente
superioridade intelectual de seus subordinados. Também fazem parte do batalhão
o ignorante Henessey (Dolari) e um defensor dos judeus de origem irlandesa,
Wykowski (Mulhern). Constantemente vítima da ira do sargento, Epstein possui
uma lógica que sempre surpreende o batalhão. Quando o sargento forja um furto,
Epstein declara-se culpado por não concordar com as técnicas de brutalização do
sargento, acreditando antes que os soldados deveriam ter a moral e a auto-estima elevadas e não serem
vítimas de humilhação. Como resultado ele permanece no batalhão enquanto os
outros saem de licença no final de semana e vão divertir-se em um cabaré, com a
prostituta Rowena (Overall), de quem Wykowski consegue fugir, enquanto Eugene é
pegue de surpresa quando volta para buscar o quepe que havia esquecido. No
mesmo dia, encontra uma garota por quem viverá seu primeiro amor, Daisy
(Miller). Porém o dia onírico transforma-se num inferno ao chegar no dormitório
e descobrir que Hannesey tomara de conta de seu diário e lera o que ele pensava
de quase todos. Entre elogios e alfinetadas, todos ficam surpreendidos com os
eleogios que tece ao próprio Hannesey e sua quase certeza sobre a
homossexualidade de Epstein, que o deixa magoado. Quando o sargento flagra dois
recrutas em ato sexual no banheiro, a
suspeita logo recai sobre Epstein, embora posteriormente seja descoberto pelo
único soldado que havia sido reconhecido pelo
sargento que o parceiro desse fora Wykowski que é imediatamente
afastado. Extremamente alcoolizado, Tooney tenta fazer Epstein de vítima
para sua tortura psicológica. De arma em punho, quer que ele vá ter uma
conversa à sós com ele. Eugene fica como voluntário, enquanto Epstein corre
desesperado a procura de ajuda. Tooney,
já sabendo que seu futuro no Exército encontra-se comprometido com sua precoce
passagem para reserva, decide que pretende realizar uma espécie de último
desejo: tentar incutir a fibra militar que faltava aos dois resistentes, Eugene
e Epstein. No final, com a arma apontada contra si, Epstein reage, o que
desperta a satisfação do sargento, que já não mais se importa de humilhar-se em
frente ao recrutas, obedecendo ao pedido de Epstein para que faça 200 flexões
(o que ele constantemente fazia com os recrutas) na chuva.
Apesar de toda a previsível tolice sentimental que é
marca registrada de Simon (que teve dezenas de adaptações para o cinema),
Nichols em não poucos momentos conseguiu extrair leite de pedra, retratando com
uma inesperada dignidade e sensibilidade o universo masculino nesse filme, que
se situa entre os bastidores da guerra e o filme juvenil de iniciação. Para
tanto bastam os bons diálogos, um bom
senso de ritmo e uma equilibrada direção de atores para construir uma
atmosfera envolvente e profundamente nostálgica e agridoce. Expurga, em último
momento, o que há de mais amargo e faz tornar-se relevante apenas a própria
atenuação dos rancores com o passar do tempo, evidente em seu redentor final,
como em A Era do Rádio de Allen,
ainda que destituído do caráter idiossincrático do mesmo. Porém mesmo com o
apurado faro de Nichols para adaptações teatrais (caso de seu melhor filme, Quem Tem Medo de V. Woolf?),
distanciando-se por exemplo das simplesmente vulgares adaptações de Simon por
Herbert Ross, o filme acaba vencido pelos limites moralizantes da banal
mensagem que pretende transmitir, em última
instância, a da lição de vida que o sargento prega no recruta, ao fazer
com que ele compulsoriamente tenha que agir com determinação, que resvala no
mais deslavado clichê, além de extremamente superficial para servir como modelo
para transformação do caráter do personagem que pretende. Para uma visão menos
superficial, mais densa e menos sentimental dos bastidores de outra guerra, a
do Vietnã, O Exército Inútil (1983),
de Robert Altman, também baseado em peça teatral. Rastar Pictures. 106 minutos.
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