(...) Só há marinheiros no convés. Ficamos eu e um colega; enrolados em mantas azuis e deitados na madeira do convés, recebemos o borrifo das ondas, à espera do escuro. Poucas vezes fui tão feliz em minha vida. Tão fundo no encantamento de uma realidade que dura. Demasiado verdadeira; com algo a mais que não me deixa pensar que terminará. Essas chegadas, essas ancoragens de noites inteiras ao largo, essas chatas que vêm abarrotadas de mercadorias, rebocadas por cabos, e a grua que range alongando as antenas furiosas! Realmente acredito que nada disso vai terminar, que vamos até o infinito nesta lentidão, nesta calma verdade de vida, beirando todos os portos e ilhas da Terra.

Elio Vittorini, "Sardenha como uma Infância", p. 86.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng