O Dicionário Biográfico de Cinema#127: Henry Fonda

 

Henry Fonda (1905-82), Grand Island, Nebraska

Educado na Universidade de Minnesota, uniu-se aos Intérpretes da Comunidade de Omaha e aos Atores da Universidade Joshua Logan. Pavimentou seu caminhos aos palcos da Broadway, sendo brevemente casado com Margaret Sullavan, e em 1934 assinou contrato com Walter Wanger. 

Tendo realizado The Farmer Takes a Wife [Amor Singelo] (35, Victor Fleming) nos palcos, Fonda foi colocado no filme para contracenar com Janet Gaynor. Alto (e delgado), belo (numa forma viril), e de fala mansa (como a sugestão de um gemido), foi primeiro utilizado como líder romântico para dobrar com carinho estrelas. Mas, após a refilmagem de Way Down East [Inocente Pecadora] (35, Henry King) e I Dream Too Much [Vivo Sonhando] (35, John Cromwell), fez sua primeira investida em um épico americano em The Trail of Lonesome Pie [Amor e Ódio na Floresta] (36, Henry Hathaway). 

Difícil agora não perceber a relevância ponderada no título: pois existe algo de assumida solidão a respeito do modo elevado que Fonda se tornou o repositório da honestidade e da decência. Ainda próximo dos setenta, voz, olhar e comportamento sustentavam esta imagem. Somente os lampejos de um homem bem mais áspero na vida privada (um marido difícil e pai tempestuoso para Peter e Jane) diminuem a sensação de tipicidade e visão sonhadora.

Fez Spendthrift [Juventude Dourada] (36, Raoul Walsh) antes de seu primeiro grande papel, como o condenado, mas não diminuído, fugitivo em You Only Live Once [Vive-se uma Só Vez] (37, Fritz Lang). Alternou filmes de romance e aventuras: That Certain Woman [Cinzas do Passado] (37, Edmund Goulding), consolando Bette Davis; I Met My Love Again [Tinha que Ser Tua] (38, Joshua Logan e Arthur Ripley); com Davis novamente em Jezebel (38, William Wyler), apenas evitando a irritabilidade; Blockade [Bloqueio] (38, William Dieterle), uma história abafada da Guerra Civil Espanhola, acalentada por Wanger. Spawn of the North [Lobos do Norte] (38, Hathaway); e o irmão Frank em Jesse James (39, King).

Após o papel coadjuvante em The Story of Alexander Graham Bell [A Vida de Alexander Graham Bell] (39, Irving Cummings), Fonda encontrou seu diretor mais adequado, John Ford. A gentileza marmórea de Fonda, com polidez, apenas relutantemente dava lugar a raiva, sendo muito próxima da concepção de Ford de uma plano Galahad. Fizeram três filmes seguidos que estabeleceram a nobreza de Fonda: Young Mr. Lincoln [A Mocidade de Lincoln] (39); Drums Along the Mohawk [Ao Rufar dos Tambores]; Tom Joad em Grapes of Wrath [Vinhas da Ira] (40), papel que admiravelmente identificava a voz anasalada rural e o passo largo que Fonda nunca perdeu. Como Lincoln, particularmente, capturou uma quietude política sonhadora, dividido entre as tortas de pêssego e de maça, mas atraído para a justiça infalivelmente.

Porém o tempo de Fonda com Wanger findava então, e assinou um contrato de sete anos com a Fox, que nem sempre foi a seu gosto. De fato, os anos subsequentes não vivenciaram seu sucesso prévio: contracenando com Alice Faye  em Lillian Russell [A Bela Lillian Russell] (40, Cummings); The Return of Frank James [A Volta de Frank James] (40, Lang); e Chad Hanna [A Garota do Circo] (40, King). A Paramount pediu-o emprestado para ser um maravilhoso aprendiz de pateta para Stanwyck em The Lady Eve [As Três Noites de Eva] (41, Preston Sturges), virtualmente a única boa comédia que Fonda jamais fez, graças à engenhosidade de Stanwyck, o humor de Sturges e a própria solenidade de Fonda. Continuou numa sequencia de filmes maçantes ou modestos: Wild Geese Calling [Vidas Sem Rumo] (41, John Brahm); The Male Animal [Assim é que Elas Gostam] (42, Eliott Nugent); The Big Street [Rua das Ilusões] (42, Irving Reis); Rings on Her Fingers [Ela Queria Riquezas] (42, Rouben Mamoulian); Tales of Manhattan [Seis Destinos] (42, Julien Duvivier), com Ginger Rogers; e The Magnificent Dope [Assim Vivo Eu...] (42, Walter Lang). Então dois filmes restauraram Fonda como o emblema da consciência liberal: The Immortal Sergeant [O Sargento Imortal] (42, John M. Stahl) e The Ox-Bow Incident [Consciências Mortas] (43, William Wellman). Neste ponto, uniu-se a Marinha e prestou serviço ativo no Pacífico.

De volta da guerra, Fonda aprofundou-se no mito americano como Wyatt Earp, sentado precariamente em uma varanda, seus pés apoiados em um poste, em My Darling Clementine [Paixão dos Fortes] (46, Ford). Segui-o como o marido em Daisy Kenyon xtase de Amor] (47, Otto Preminger), filme subestimado, que utiliza da inflexibilidade de Fonda de forma inteligente. Interpretou o papel de Jean Gabin no medonho The Long Night [Noite Eterna] (47, Anatole Litvak), e então teve seu fracasso com Ford, o padre numa tentativa de The Power and the Glory, de Graham Greene chamada The Fugitive [Domínio dos Bárbaros] (47). Está em um episódio de On Our Merry Way [No Nosso Alegre Caminho] e depois eclipsado por John Wayne em Fort Apache [Sangue de Heróis] (48, Ford), no qual interpreta um enrijecido disciplinador. 

Retornou ao teatro e fez grande sucesso em Mister Roberts, Point of No Return e The Caine Mutiny Court Martial. Hollywood o trouxe de volta somente em 1955 para o filme de Mister Roberts. Ford iniciou o projeto, mas ele e Fonda se desentenderam e Mervin LeRoy o assumiu, após Ford adoecer. Uma vez de volta, Fonda continuou como se nunca tivesse pulado fora. Após interpretar Pierre em War and Peace [Guerra e Paz] (56, King Vidor), esteve no seu melhor, cultivado na resignação, como o baixista erroneamente identificado com roubo em The Wrong Man [O Homem Errado] (57), de Hitchcock - e é uma performance de uma simplicidade e intensidade de um homem instintamente consciente da câmera. Mas foi seu filme seguinte que verdadeiramente trouxe Fonda de volta à atenção do público: como a voz revestida da cor da razão entre Twelve Angry Men [12 Homens e uma Sentença] (57, Sidney Lumet). A perícia técnica e o liberalismo verboso foram erigidos ao redor de Fonda e uma vez mais ele se revelou como a Estátua da Liberdade de Hollywood. Foi magnificente em Stage Struck [Quando o Espetáculo Termina] (58, Lumet) e menos que um robusto caçador de recompensas em The Tin Star [O Homem dos Olhos Frios] (57, Anthony Mann). O  mais notável foi o quão sua persona foi usada em temas políticos: um candidato a Secretário de Estado em Advise and Content [Tempestade Sobre Washington] e The Best Man [Vassalos da Ambição] (64, Franklin J. Schaffner), eventualmente demasiado puro para a confusão; e o próprio presidente, torturado pelo iminente holocausto em Fail Safe [Limite de Segurança] (63, Lumet).

Após Kennedy, figura tão honrada ficou fora de moda. E o Vietnã e Watergate fizeram Vassalos da Ambição parecer virginal. E é possível, também, que quando Peter e Jane Fonda se tornaram eles próprios personalidades, Henry foi então tido como algo menos que o cara mais legal da cidade? Seja qual for a resposta, o esgotamento foi o que definiu seus últimos anos. Uma empolada série de TV, The Deputy, apresentava uma impassível figura paterna, como fez Madigan [Os Impiedosos] (68, Don Siegel) e The Boston Strangler [O Homem Que Odiava as Mulheres] (68, Richard Fleischer). Fonda tentou e descobriu um personagem mais malicioso e pervertido, particularmente em westerns subcômicos, mas com sucesso variado: A Big Hand for the Little Lady [Jogada Decisiva] (66, Fielder Cook); Welcome to Hard Times [O Homem com a Morte nos Olhos] (67, Burt Kennedy); Firecreek [O Último Tiro] (67, Vincent McEveety); muito bom como o vilão em C'era una Volta in West [Era uma Vez no Oeste] (69, Sergio Leone); The Cheyenne Social Club [Cheyenne] (70, Gene Kelly); There Was a Crooked Man [Ninho de Cobras] (70, Joseph Mankiewicz); Sometims a Great Notion [Uma Lição Para não Esquecer] (71, Paul Newman); Le Serpent [A Serpente] (73, Henri Verneuil); Ash Wednesday [Meu Corpo em Tuas Mãos] (73, Larry Pearce); Il Mio Nome è Nessuno [Meu Nome é Ninguém] (73, Tonino Valerii); The Red Pony [O Potro Vermelho] (73, Robert Totten); como o Almirante Nimitz em Midway [A Batalha de Midway] (76, Jack Smight); Tentacles [Tentáculos] (76, Oliver Hellmann); Rollercoaster [Terror na Montanha Russa] (77, James Goldstone); e The Swarm [O Enxame] (78, Irvin Allen). 

Não fez um bom filme em dez anos. Se esperava que alguém lhe desse uma chance como, digamos,  um falso padre, um estuprador vigarista de confiança que mete o dedo no seu nariz. Esta perspectiva perversa nunca prosperou. Fonda estava com saúde debilitada próximo do final, de aspecto sombrio e lento, mas capaz de ser bastante tocante: como um homem que se recupera de um derrame  em Home to Stay [Meu Avô, Meu Amigo], para a TV; uma breve aparição em Fedora (78, Billy Wilder); Wanda Nevada (79, Peter Fonda); City on Fire [Cidade em Chamas] (79, Alvin Rakoff); Meteor [Meteoro] (79, Ronald Neame); Gideon's Trumpet [As Trombetas de Gideão] (80, Robert Collins); The Oldest Living Graduate (80, Jack Hofsiss); com Mirna Loy em Summer Solstice (81, Ralph Rosenblaum), para a TV; e finalmente ganhando o Oscar de melhor ator, com Katharine Hepburn, e sua filha, no integralmente outonal On Golden Pond [Num Lago Dourado] (81, Mark Rydell).

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. Nova York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 913-16. 

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