Filme do Dia: Os Pobres Diabos (2013), Rosemberg Cariry
Os Pobres Diabos (Brasil, 2013). Direção
e Rot. Original: Rosemberg Cariry. Fotografia: Petrus Cariry. Música: Herlon Robson. Montagem: Petrus
Cariry & Rosemberg Cariry. Dir. de arte: Sérgio Silveira. Com: Chico Diaz, Gero Camilo, Sílvia Buarque,
Everaldo Pontes, Zezita Matos, Sâmia Bittencourt, Nanego Lira.
Circo mambembe resolve armar sua estrutura
em um descampado próximo da praia de Aracati, Ceará, já que qualquer pedaço de
terra na famosa Canoa Quebrada, que fica relativamente próximo, é demasiado
caro para suas parcas finanças. Contando com o dinheiro dos primeiros dias para
poder pagar a iluminação, os artistas vivem o cotidiano de preparação dos
espetáculos assim como sua dinâmica de relações internas que inclui a cobiçada
Creusa (Buarque), companheira de Zeferino (Camilo), sempre de olho para que ela
não o traia com Lazarino (Diaz), o musculoso Tarzan, que procura salvar os
gatos da sanha de Zezivalda de transforma-los em espeto e o irmão dela e
proprietário do circo, Arnaldo (Pontes), nostálgico admirador de velhos
boleros. Não conseguindo atrair mais que uns poucos interessados locais, dentre
eles o homem que realizou a ligação elétrica do circo, quando esse vai com sua
carola esposa assistir o espetáculo, essa se sente grandemente atraída por
Lazarino e o marido os flagra juntos, desligando raivoso a energia do circo.
Sem luz e quase sem comida, o circo ainda sofre um furto de alguém que leva a
cabra, da propriedade de Zeferino, e uma das poucas fontes de alimentação da
trupe, dentre outros pertences, e que acidentalmente por atear fogo a lona,
destruindo-a rapidamente. Mesmo sem lona e numa situação terrível, como nunca
dantes enfrentada, os artistas decidem continuar o seu trabalho.
Visualmente talvez o filme mais belo
de Cariry, em grande parte por conta da fotografia e senso de enquadramento
provavelmente derivados de seu filho e também cineasta, Petrus, o filme, no
entanto, ressente-se grandemente de uma estrutura narrativa algo precária, que
nem sempre consegue criar situações com algum senso mínimo de interesse cômico
ou dramático. E em grande parte isso é causa ou consequência de quão pouco
polidos e individualizados são a maior parte dos personagens, assim como
algumas situações que potencialmente sinalizavam para um maior desenvolvimento
e que acabam rapidamente por se atrofiar, como é o caso do momento no qual
Arnaldo chama Tarzan e lhe indaga sobre questões relativas aos afetos. O que
poderia sugerir um interesse de um pelo outro ou a apresentação de algum evento
memorável do passado ou gancho para alguma situação posterior morre por aí
mesmo, o que faz com que se indague sobre sua necessidade. Com sketches
internos até relativamente interessantes, ainda que pouco organicamente
interativos entre si, no que parece ser quase um reflexo do próprio filme, o
circo apresenta uma composição de números bem pouco próxima dos seus equivalentes
reais, dimensão essa que não chega a tirar o brilho de um filme que se pretende
menos realista que um tributo a uma arte cujo explícito propósito é o de servir como comentário para o próprio
sistema de produção, artesenal e grandemente familiar, com o qual os filmes do
realizador são produzidos. 98 minutos.
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