Filme do Dia: O Homem dos Olhos Frios (1957), Anthony Mann


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O Homem dos Olhos Frios (The Tin Star, EUA, 1957). Direção: Anthony Mann. Rot. Original: Joel Kane, Dudley Nichols & Barbara & Barney Slater. Fotografia: Loyal Griggs. Música: Elmer Bernstein. Montagem: Alma Macrorie. Dir. de arte: Jay McMillan Johnson & Hal Pereira. Cenografia: Sam Comer & Frank R. McKelvy. Figurinos: Edith Head. Com: Henry Fonda, Anthony Perkins, Betsy Palmer, Michel Ray, Neville Brand, John McIntire, Mary Webster, Peter Baldwin, Richard Shannon, Lee Van Cleef.
O inexperiente xerife Ben Owens (Perkins) tem que lidar com a pressão do indisciplinado e arruaceiro Bart Bogardus (Brand), que almeja conquistar a sua estrela. Owens consegue apoio e como se portar nas situações do forasteiro Morgan Hickman (Fonda), figura do qual a sociedade local torce o nariz, por se tratar de um caçador de recompensas, à exceção da mãe solteira Nona (Palmer) e seu filho Kip (Ray). As tensões se tornam incontornáveis quando o médico da cidade, querido por todos, McCord ((McIntire) é morto pelos irmãos Zeke e Ed McGaffey (Baldwin e Van Cleef). Capturados por Morgan, que cede os créditos ao xerife, esse passa a ganhar maior admiração e respeito  da população local. Mas não ao ponto de fazer com que Bogardus desista da ideia de fazer um justiçamento com suas próprias mãos – e mais uma centena de homens.
Esse admirável western filmado em irretocável p&b, ao mesmo tempo que se refere diretamente a vários dos arquétipos do gênero, incluindo a união entre um herói marginalizado e uma figura de mulher que seria seu equivalente de saias (união que vem ao menos desde o clássico No Tempo das Diligências) tampouco deixa de subterraneamente mobilizar toda uma referência/deferência à figura paterna por excelência e aqui duplamente – tanto da criança, de fato quanto da criança crescida personificada pelo xerife, que terá seu rito de passagem previsivelmente selado a sangue ao final. Para o personagem do inseguro xerife ninguém poderia emplacar maior vulnerabilidade, ainda que com o risco da comicidade ausente da figura trágica de seu equivalente Montgomery Clift que Perkins. Fonda está notável com sua máscara facial praticamente impassível, completa com um sempre alerta sorriso de canto de boca. Por mais que possa parecer retórica a sua afirmação ao final que aprendera bastante com o seu aprendiz, deve-se levar em conta que ao final ele volta a envergar a estrela de xerife, demonstrado ter superado o trauma da esposa e filho mortos de quando o fora anteriormente, e indo buscar novo paradeiro com uma nova mulher e filho. Se o quase completo exílio social ao qual Nona se vê forçada diz respeito ao fato de seu filho ser filho de índio e um momento de tensão se torna evidente quando Morgan descobre o fato, ele não volta as costas para os dois,  mesmo afirmando que crescera aprendendo a odiar os índios, numa postura bastante distante do demarcado racismo de Ethan Hawks e de todo o grupo de pioneiros que compõe sua família do contemporâneo Rastros de Ódio. Numa cena bastante expressiva, Mann consegue sintetizar a divisão sexual da sociedade de então, com o quadro dividido entre Morgan limpando seu rifle em contraposição a Nona cosendo roupa para fora para seu sustento. Pearlsea Co. para Paramount Pictures. 93 minutos.

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