Filme do Dia: O Caminho do Progresso (1965)
O Caminho do Progresso (Brasil,
1965). Fotografia Giulio de Luca. Montagem Italo di Bello.
O comentário musical talvez fale mais
que qualquer das obviedades de sua voz over (narração de Alberto Cury).
Assim, nos créditos iniciais e ao lado do otimista título há uma presença de um
rock instrumental. Quando se aproxima da realidade dos interiores os temas se
tornam regionais. Quando se adentra no interior de uma indústria, os acordes
instrumentais de uma famosa balada rock emergem. O recado está dado. Caminha-se
para o progresso da metrópole paulistana, observada do alto e logo, mais de
perto, coalhada de veículos. São esses que transportam tudo, inclusive outros
veículos. Assim o curta destaca, uma vez mais, mesmo que de forma inicialmente
oblíqua, o papel central da indústria automotiva, como vários outros produzidos
por Manzon (Indústria Automobilística, Como Nasceu o Primeiro Carro
Brasileiro, Boa Viagem Pelas Novas Estradas, O Nosso Pequeno 1800
e tantos outros). São essas que igualmente subsidiam ao menos parte dessa
produção. E seu otimismo patriótico é próximo de uma visão benquista da
ditadura militar. Não há portanto, uma grama de possibilidade de visão crítica,
mesmo que saindo pelo ladrão, como era o caso na década de 50 (a exemplo de A Luta Pelo Transporte em São Paulo). De se comentar, por exemplo, em relação
a centralidade dessa indústria e a obsolescência equivalente do sistema
ferroviário. Ou de apresentar minimamente um trabalho explorador no campo. Os
trabalhadores se tornam mais uma peça desse quadro orgânico. E embora não se
encontrem sorridentes como os da propaganda veiculada diretamente pelo próprio
regime militar (como pode ser lembrado retrospectivamente, em contraste
irônico, pelo documentário Os Arrependidos) executam suas tarefas de
forma séria e diligente. E, de quebra, ainda involuntariamente servem, com os
adereços que usam, como é o caso do lenço utilizado na cabeça por uma
trabalhadora, para realçar a bela fotografia em cores – ainda uma exceção na
produção cinematográfica brasileira como um todo à época. Uma transição nem tão
suave como pretende, vai do transporte de mercadorias aos veículos que a fazem
e, rapidamente, para uma fábrica que os produz. E há um deslumbramento habitual
com a tecnologia através de suaves movimentos de câmera e comentários (“atingem
um milésimo de um milímetro”). Os trabalhadores, evidentemente, são
coadjuvantes em toda essa perfeição, sempre sérios e compenetrados. Mais peças
bem azeitadas do maquinário geral. Próximo ao final, o último comentário do
narrador parece já se antecipar a qualquer crítica progressista que venha
matizar essa grande rodovia para o progresso certeiro, associando-a a um
pensamento menor, de inflexão humanista
(“o resto é literatura”). Jean Manzon. 9 minutos e 36 segundos.
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