O Dicionário Biográfico de Cinema#248: William Wyler



 William Wyler (1902-81), n. Mulhouse, Alemanha

1926: Lazy Lightning; Stolen Ranch [A Fazenda Roubada]. 1927: Blazing Days [Lá no Oeste]; Hard Fists [O Remido]; Straight Shootin' [Reto como o Dever]; The Border Cavalier; Desert Dust [Pó do Deserto]; Shooting Straight (*). 1928: Thunder Riders [A Prova de Coragem]; Anybody Here Seen Kelly? [À Caça de um Marido]. 1929: The Shakedown [O Trapaceiro]; The Love Trap [Cilada Amorosa]. 1930: Hell's Heroes [Os Três Padrinhos]; The Storm [A Invernada]. 1931: A House Divided. 1932: Tom Brown of Culver [Cadete de Honra]. 1933: Her First Mate [O Piloto d'Água Doce]; Counsellor at Law [O Conselheiro]. 1934: Glamour [Fascinação]. 1935: The Good Fairy [A Boa Fada]; The Gay Deception [Sua Alteza o Garçon]. 1936: Come and Get It [Meu Filho é Meu Rival] (co-dirigido com Howard Hawks); Dodsworth [Fogo de Outono]; These Three [A Revolta do Colégio]. 1937: Dead End [Beco sem Saída]. 1938: Jezebel. 1939: Wuthering Heights [O Morro dos Ventos Uivantes]. 1940: The Letter [A Carta]; The Westerner [O Galante Aventureiro]. 1941: The Little Foxes [O Galante Aventureiro]. 1942: Mrs. Miniver [Rosa de Esperança]. 1944: The Memphis Belle [Por Céus Inimigos]; The Fighting Lady [Belonave]; Thunderbolt (documentários de guerra, o último co-dirigido com John Sturges. 1946: The Best Years of Our Lives [Os Melhores Anos de Nossas Vidas]. 1949: The Heiress [Tarde Demais]. 1951: Detective Story [Chaga de Fogo]. 1952: Carrie [Perdição por Amor]. 1953: Roman Holiday [A Princesa e o Plebeu]. 1955: The Desperate Hours [Horas de Desespero]. 1956: Friendly Persuasion [Sublime Tentação]. 1958: The Big Country [Da Terra Nascem os Homens]. 1959: Ben Hur. 1962: The Children's Hour [Infâmia]. 1965: The Collector [O Colecionador]. 1966: How to Steal a Million [Como Roubar um Milhão de Dólares]. 1968: Funny Girl [A Garota Genial]. 1970: The Liberation of L.B. Jones [A Libertação de L.B. Jones].

Nos anos que se seguiram a Segunda Guerra Mundial, Wyler foi a ideia hollywoodiana de um grande diretor - respeitável, diligente, de bom gosto, servo das estrelas e um potencial de bilheteria, um mestre confiável de projetos grandiosos. Venceu o Oscar de melhor diretor três vezes - por Rosa de Esperança, Os Melhores Anos de Nossas Vidas e Ben Hur - mas foi indicado ao prêmio por incríveis doze vezes. Devo conceder que Os Melhores Anos é decente e humano, acumulando a fotografia em profundidade de foco de Gregg Toland pelo bem da autenticidade simples e de um alargamento do contexto. Os Melhores Anos é agudamente observador, apesar de ser um pacote tão meticuloso: teria exigido genialidade e audácia incomuns naquela época se obter uma visão furtiva de uma América desalinhada ou sem solução, passando por Goldwyn, e pelo público; enquanto para Welles há sempre uma variedade de loucura na profundidade de foco. Já Rosa de Esperança e Ben Hur, estes queridinhos das bilheterias, envelheceram bastante mal: pouco resta, além de uma absoluta retidão.

Wyler foi educado em Lausanne e Paris (mas a Europa alguma vez se demonstrou nele?), e tinha vinte anos ao chegar à América para escrever material publicitário para a Universal. Foi para Hollywood e conseguiu emprego de assistente em filmes tais como The Hunchback of Notre Dame [O Corcunda de Notre Dame] (23, Wallace Worsley) e o Ben-Hur (25, Fred Niblo) original. 

Quando começou a dirigir ele próprio, passou vários anos em faroestes de baixo orçamento. Desenvolveu muito lentamente - precaução foi sempre o lema de Wyler, e o ensinou a obter a maior filmagem de cobertura possível, algumas vezes para além da paciência de seus atores. Por dois anos, em meados da década de 30, foi casado com Margaret Sullavan, a quem dirigiu em A Boa Fada, uma brilhante comédia romântica escrita por Preston Sturges (Wyler posteriormente casaria com a atriz Margaret Tallichet).

Em 1936, assinou contrato com Goldwyn: os dois homens brigaram muito, mas esta também foi uma aliaça frutífera, da qual Wyler certamente entregou as mercadorias encomendadas pelo chefe. Meu Filho é Meu Rival deve sua vivacidade a Hawks, e A Revolta do Colégio foi um tratamento censurado da peça The Children's Hour, de Lillian Hellman. Mas Fogo de Outono é um filme de Wyler: uma adaptação sóbria e astuta (de Sinclair Lewis por Sidney Howard), de nível, justa, muito bem atuada e adulta. 

Beco Sem Saída é teatral, mas foi bastante elogiado e prestigiado em sua época. Jezebel é um melodrama bastante inofensivo, por mais que Wyler evidentemente tenha compreendido a energia emocional de Bette Davis desde cedo - houve um romance suscetível que certamente ajudou A Carta. O Morro dos Ventos Uivantes, para estes olhos, é tão ruim quanto uma cuidadosa adaptação pode ser quando ninguém obtém o material original, mas todos sentem-se obrigados a entregar uma produção de qualidade. Mas A Carta é vivaz, satisfeito em ser um melodrama menor, seguro em seu senso de depravação de Bette Davis e das pressões impostas por ela em homens decentes.

Wyler fez muito bem posteriormente em projetos similares: por exemplo, compreende a decrepitude da personagem de Olivier em Perdição por Amor e discretamente produz uma tragédia social realista digna de Dreiser. Mas Perdição por Amor foi um dos poucos fracassos comerciais da fase final de Wyler. Ao contrário, as pessoas se congratulavam com o charme de A Princesa e o Plebeu e Sublimete Tentação, assim como os espúrios "épicos inteligentes" Ben Hur e Da Terra Nascem os Homens. De forma constante, nos anos 50, a América regozijou-se com as realizações anódinas de Wyler, Stevens e Zinnemann, enquanto rejeitava ou ignorava a verdadeira beleza em Nick Ray, Füller, Anthony Mann e Minnelli.

Sempre que pode, Wyler fez adaptações de roteiros sensíveis, mas os resultados foram variados: quase trinta anos após, atrapalhou-se novamente com Infâmia (**). Mas O Galante Aventureiro foi interpretado em máximo teor e Tarde Demais é verdadeiramente assustador por conta do tirano sussurante e condescendente de Ralph Richardson. Há excelentes performances nos filmes de Wyler, não somente Kirk Douglas no sombrio e implacável Chaga de Fogo (de uma peça de Sidney Kinsgley), sempre de Bette Davis, e praticamente de todo o elenco em Fogo de Outono, Perdição por Amor e Os Melhores Anos.

Em anos recentes, Wyler tornou-se mais problemático (ou mais interessante) para mim. As produções fracassadas, continuam fracassadas, mas Fogo de Outono, O Galante Aventureiro, Perdição por Amor, A Carta, Tarde Demais e Os Melhores Anos se destacam. Vamos encarar a realidade: o "realismo" em Wyler é um truque - sua verdadeira fortaleza é o melodrama realizado em tom direto e chocante. É a observação de um homem cauteloso de eventos chocantes. É como um David Lean com medo de se tornar Douglas Sirk. Wyler foi um grande sucesso em seus dias, mas seus melhores filmes lidam com os fracassos, desapontamentos e falhas humanas. Isto é o que o torna vivo.

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 2889-91.


N. do E.: (*) segundo o IMDB se trata de um único filme, tratado como dois lançados no mesmo ano na publicação. 

N. do T: (**) The Children's Hour no original, peça de Hellman que motivou tanto A Revolta do Colégio quanto Infâmia.

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