Filme do Dia: The Post: A Guerra Secreta (2017), Steven Spielberg
The Post: A Guerra Secreta (The Post, EUA/Reino Unido, 2017). Direção: Steven Spielberg. Rot. Original: Liz Hannah & Josh Singer. Fotografia:
Janusz Kaminski. Música: John Williams. Montagem: Sarah Broshar & Michael
Kahn. Dir. de arte: Rick Carter, Kim Jennins & Deborah Jensen. Cenografia:
Rena DeAngelo. Figurinos: Ann
Roth. Com: Meryl Streep, Tom Hanks, Sarah Paulson, Bob Odenkirk, Tracy Letts,
Bradley Whitford, Bruce Greenwood, Matthew Rhys.
1971. Ainda
insegura quanto ao comando do prestigiado jornal The Washington Post desde o suicídio de seu marido, Katharine “Kay” Graham (Streep), que recentemente abriu
o capital da empresa para negociar ações na Bolsa de Valores, depara-se com a
decisão mais tensa até então em sua vida, publicar ou não os documentos do
Pentágono que haviam sido vazados de forma relativamente superficial pelo
concorrente The New York Times, que
inclusive está sofrendo processo judicial por parte do governo. Para piorar
tudo, o documento foi redigido por um amigo pessoal de Kay, Robert McNamara (Greenwood),
deixando a nu que quatro administrações federais (Eisenhower, Kennedy, Johnson
e agora Nixon) foram coniventes com a desastrosa incursão militar ao Vietnã,
mesmo sabendo que os Estados Unidos não poderiam vencer a guerra. Favorável a
publicação se encontra seu editor-chefe, o enérgico Ben Bradlee (Hanks).
Spielberg mais
uma vez se depara com a história recente – e praticamente contemporânea aos
eventos retratados em seu Munique –
com o esperado arsenal de sempre, tendo como pedra basilar os valores de
produção e mais uma narrativa a edificar, em última instância, os princípios democráticos americanos, flertando fortemente, do mesmo modo, com a agenda
politicamente correta – Kay Graham e sua assertividade em relação ao poder de
seu papel é algo tão ou mais importante para o filme que o episódio histórico
em si mesmo. Tudo isso em um momento nada distante dos comentários iracundos
que o governo Trump, na voz do próprio presidente, fez contra a imprensa. E o
velho mote liberal mais uma vez desloca os eventos para a dimensão individual
de seus protagonistas, aqui em dose dupla, com os habituais céticos ou
pessimistas de plantão. Não falta o irritante didatismo de cenas como a que Kay
Graham se impõe de vez como a voz que toma as decisões, após uma postura
excessivamente vacilante por longo tempo, coroando o habitual desenlace e, no
campo do empoderamento feminino, idem para a ridícula cena em que uma Katharine
Graham abandona a Suprema Corte sobre o olhar vidrado da admiração de mulheres
dos mais distintos perfis, cena que, guardadas as proporções, nada fica a dever
aos ditames igualmente caricatos dos tempos do Realismo Socialista soviético.
Se a redação do famoso jornal já havia sido recriada em estúdio em Todos os Homens do Presidente e a
narrativa aqui finda ao início da outra, falta a Spielberg o tino de Pakula para lidar criativamente com o espaço urbano, aqui observado apenas no
convencional papel de reconstituição de época. Faz uso, ainda que moderado, de
imagens de arquivo, que surgem sobretudo através dos monitores de TV. Sua
simplificação surge no papel de exaltação e independência da imprensa, com a
decisão de Graham partindo de seu idealismo, mesmo tendo tanto contra si. À
trilha de Williams se soma aos respiros de bom humor igualmente burocráticos. Sombras do Mal (1950), de Jules Dassin,
está sendo exibido na tv quando Bradlee chega em casa. Sua esposa, vivida por
Paulson, parece a própria caricatura do que seria a figura de esposa
convencional da época, ou melhor, em continuidade com o modelo dos anos 1950.
Do caldeirão de clichês somos poupados ao menos das informações posteriores
sobre os desdobramentos de seus principais personagens. Típica produção a
despertar o arroubo incauto de alguém na plateia com seu desfecho tão
tipicamente catártico e fechado. Amblin Ent./DreamWorks/Participant Media/Pascal Pictures/Star Thrower
Ent./River Road Ent. para Universal Pictures/Twentieth Century Fox. 114 minutos.
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