Filme do Dia: Lua Cambará - Nas Escadarias do Palácio (2002), Rosemberg Cariry
Lua Cambará – Nas Escadarias do Palácio (Brasil, 2002). Direção e Rot. Adaptado: Rosemberg Cariry & Ronaldo Brito E. Assis, baseado no conto do último. Fotografia: Antônio Luiz Mendes. Montagem: Severino Dadá & Rosemberg Cariry. Dir. de arte e Cenografia: Márcio Rodarte. Figurinos: Albanita Camurça. Com: Dira Paes, Chico Diaz, Muriel Racine, Via Negromonte, Sofia Xavier, Tony Silva, J.W Solha, B. de Paiva, Cláudio Jaborandy, Joca Andrade, Ceronha Pontes.
A Saga de Lua Cambará, encontrada por um judeu errante ao lado da mãe morta, no sertão cearense do final do século XIX. Levada pelo judeu até a casa de seu verdadeiro pai, um rico coronel, onde irá sofrer preconceitos por conta de sua cor. Forte e destemida, assumirá o comando da fazenda após a morte do coronel, matando com as próprias mãos a maior ameaça para si própria, na figura do irmão do coronel e enfrentando e matando igualmente seu filho (Andrade). No plano afetivo, no entanto, não possui a mesma sorte. Apaixonada por um de seus empregados (Diaz), vive atormentadamente um amor não correspondido e acaba apelando para que outro empregado (Jaborandy) assassine a esposa de seu amado (Pontes). Vítima de seu próprio caráter, morre alucinada, nas mãos de sua mãe negra.
Com uma produção superior a de seus filmes anteriores, torna-se presa de um crescente clacissismo por parte de Cariry que, ao mesmo tempo em que freia com a possibilidade de uma maior ousadia e inventividade, tampouco consegue seduzir e envolver, como no caso de um cinema acadêmico bem sucedido. Ainda que conte com boas interpretações (da mesma dupla de Corisco & Dadá) e alguns bons momentos isolados, o resultado final é grandemente prejudicado pelo uso abusivo de clichês, seja em termos de estrutura narrativa (o batido recurso, por sinal mal costurado, de um prólogo e uma seqüência final que justifiquem a representação da lenda) ou na própria diegese, presa em grande parte do heróico feminismo precoce da protagonista. Embora o feminismo vanguardista de Cambará tenha sido uma constante na produção cinematográfica mundial, principalmente em tempos de leituras politicamente corretas, deve-se frisar que aqui ele é contrabalançado pela caricatura de poder e rigidez em que se transforma Lua, após assumir o “lugar de homem” – paralelos podem ser traçados com Dora, Doralina de Perry Salles. Pior de tudo, no entanto, é um certo caráter postiço e involuntariamente kitsch que se impõe crescentemente ao filme, associado, no mais das vezes, a uma certa aura de realismo fantástico. Talvez o que de melhor fique seja justamente a reflexão sobre como os próprios marginalizados sociais tendem a se transformar em tiranos tão ou mais implacáveis que seus próprios algozes, tema constantemente realçado pela filmografia de cineastas como Fassbinder. Cariry Filmes. 94 minutos.
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