Filme do Dia: Vive-se uma Só Vez (1937), Fritz Lang
Vive-se uma Só Vez (You Only Live Once, EUA, 1937). Direção:
Fritz Lang. Rot. Original: Gene Towne & C. Graham Baker. Fotografia: Leon Shamroy. Música:
Alfred Newman. Montage: Daniel Mandell. Dir. de arte: Alexander Toluboff. Figurinos:
Helen Taylor. Com: Sylvia Sidney, Henry Fonda, Barton MacLane, Jean Dixon,
William Gargaes, Jerome Cowan, Charles “Chic” Sale, Margaret Hamilton.
Joan (Sidney) apaixonada pelo
criminoso Eddie Taylor, anseia pelo momento no qual sairá da prisão. Esse tenta
um emprego honesto, mas seu empregador o demite. Enquanto discute com o patrão,
um grupo se envolve em uma ação espetacular de assalto a carros fortes que morrem
seis pessoas e deixam o chapéu de Taylor
no local para incriminá-lo. Eddie volta a se encontrar com Joan e essa lhe
aconselha fortemente a se entregar e falar a verdade, confiando na justiça, mas
é condenado. Logo a seguir, ele vem a ser capturado pela polícia, e condenado a
pena de morte. No dia de sua execução, ele consegue se ferir e ser levado a uma
enfermaria, onde se encontra escondido um revólver. Com o revólver ele
transforma um médico (Cowan), como refém-escudo para sair da penitenciária. Uma
informação chega sobre a descoberta do verdadeiro autor do assalto ao carro
forte não ter sido Taylor durante a negociação para sua saída. Descrente quanto
a veracidade da informação Taylor reage e mata o Padre Dolan (Gargaes) e se
torna, juntamente com Joan, em foragidos.
Talvez poucos realizadores da era de
ouro do sistema de estúdios hollywoodiano tenham sido tão aplicados em sua
recorrência a um tema – associado indefectivelmente a questão sobre
criminalidade e castigo, e complexificado pelos matizes ironicamente que sempre
acompanham os mesmos – quanto Lang, mesmo trabalhando com outros gêneros e
abordagens, como de praxe então. De fato esse é um tema que já o perseguia de
antes mesmo de sua chegada aos Estados Unidos (M), continuando antes (Fúria,
com a mesma Sidney) e depois (No Silêncio de uma Cidade) desse aqui. Evidentemente, por mais localizadas que
tais tramas sejam no âmbito criminal, respingam para possibilidades de leituras
mais amplas, como a do embate entre indivíduo e a forma como percebe a si mesmo
e a sua construção tal como elaborada pela sociedade, sobretudo via meios de
comunicação de massa (se no caso de Fúria,
o cinema surge como testemunho de uma ação coletiva de linchamento contra esse
indivíduo, aqui a imprensa apenas reproduz o linchamento moral ao qual se
encontra reduzido Taylor e em filmes posteriores, como No Silêncio de uma Cidade, a televisão entra em cena como mediadora
interessada e obstinadamente enviesada nessa relação). Chama a atenção,
sobretudo aos olhos de várias e várias décadas após seu lançamento, o quão
Taylor rapidamente passa do ressentimento à figura de vilão que já é creditada
a ele por antecipação – ao menos no que diz respeito aos eventos cobertos pelo
filme. Situação que culmina no assassinato de Padre Dolan. E o quanto a figura
culpada e sem restrições de Joan se torna quase monocórdica em sua aceitação
ampla e irrestrita de tudo que for praticada por Taylor, chegando mesmo ao
patético esboço de uma reação mínima de susto ao replicar sobre a notícia da
morte de Dolan. A cena em que o casal é vítima de tiros disparados por uma
metralhadora é digna antecipadora, guardadas as proporções, de Bonnie & Clyde (1967). Walter
Wanger Prod. para United Artists. 86 minutos.
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