Filme do Dia: Entente Cordiale (1912), Max Linder

 


Entente Cordiale (França, 1912).  Direção e Rot. Original Max Linder. Com Max Linder, Jane Renouardt, Stacia Napierkowska, Harry Fragson.

O amigo de Max (Linder), Fragson (Fragson), afirma que terá um emprego durante um mês em Paris, e pede que o amigo o receba na estação ferroviária. Max vai recepcionar o amigo na Gare du Nord. Porém, quando já se encontrava para entrar na carruagem, o amigo lhe alerta que está trazendo um piano de cauda. Os dois sobem no piano e a carruagem parte deixando uma perna do piano e os amigos pelo chão. Quando chegam na moradia de Max, seu amigo tenta, sem sucesso, seduzir sua criada. E o mesmo faz Max, em outro aposento. A situação se inverte. Enquanto a criada tem sonhos românticos languidamente deitada em um sofá, Max improvisa seu paletó como avental para limpar a sala, e o amigo se vê com a louça a ser limpa. Os dois amigos dão uma trombada, destruindo o que carregavam e discutem. A noite, após se recolherem aos seus quartos,  flagram um ao outro indo na surdina até a porta do quarto da criada. Após trocarem acusações, marcam um duelo. Chega o momento desse. Nenhum dos contendores sabe sequer portar a arma direito. Após trocarem vários tiros, descobrem que se encontram vivos e comemoram a surpresa, sem sequer observarem os que jazem mortos, impassíveis, no chão, testemunhas e advogados do duelo. A empregada, triste a ansiosa com a situação, descobre para sua felicidade os dois homens vivos. Um senhor da alta sociedade manda uma carta, afirmando que sua filha finge se passar por criada,  para que não desperte interesse apenas por motivos financeiros nos homens. Max e ela se engraçam imediatamente, porém Max se sente constrangido pelo amigo, mas logo Fragson abençoará a nova relação ao piano.

A qualidade da imagem, seus interiores aparentemente reais, apresentando uma cenografia a anos-luz de distância, em termos de realismo, ao de boa parte das produções contemporâneas, são dignos de nota. Assim como o modo um tanto original (e atravessado) com o qual retrata seu desajeitado duelo, como se quisesse reproduzir em termos de imagem  ou maximizar seu ridículo, evitando o tradicional plano lateral, e filmando os rivais de forma perpendicular. Quanto ao peso que eventualmente os mortos poderiam trazer para seu tom farsesco, resolve-se com uma descoberta que os homens apenas fingiam para evitarem os tiros, levantando-se todos ao mesmo tempo, celebrando o fracasso do evento. Seu truque final de roteiro é quem de fato desequilibrará o arranjo do filme, pior até do que se os homens houvessem de fato morrido. E tudo com a testemunha ocular do mordomo, que acompanha atentamente todos os movimentos, um pouco recuado, desde que entrega a missiva, inclusive se embevecendo com os jogos e carícias amorosas do casal, que Fragson não percebe, pois se encontra de costas ao piano.  Ao final, todos, objetos de cena e personagens, passam a se mover alucinadamente, acompanhando o crescendo da música, transformando a cena em algo como uma mistura entre os efeitos de um terremoto e uma sessão espírita. Fragson de fato era músico e uma meia-dúzia de suas músicas serão ouvidas em filmes de décadas após sua morte, provocada por um tiro disparado pelo próprio pai, no ano seguinte. Pathè Fréres. 14 minutos.

 

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