O Dicionário Biográfico de Cinema#258: Jean Gabin
Jean Gabin (Jean-Alexis Gabin Moncorgé) (1904-1976), n. Paris
Nenhum outro ator de cinema francês pareceu aos franceses incorporar tantas de suas mais admiráveis características. Como os melhores atores americanos foi subjugado pela exaustão, um conhecido ouvinte mais que falante, antecipador mais que ativo. Ainda que em seus últimos anos tenha representado o apelo duradouro de um mais que fleumático burguês, no final dos anos 30 Gabin foi a perfeita expressão de uma figura da classe trabalhadora, odiando seu ambiente esquálido em fábricas ou alojamentos - mas atraído por uma mulher perigosamente inocente e consequente violência fatal, como o único meio para a dignidade.
E é um tema que retornou em Pierrot le Fou [O Demônio das Onze Horas], e é o que André Bazin viu na alegada insistência de Gabin em uma cena de morte em seus filmes: "Gabin então estava bastante certo ao demandar de seus roteiristas uma cena de crise de fúria homicida. Ele constitui o momento significativo em um destino rígido onde o espectador reconhece o mesmo herói, filme após filme - um herói da metrópole espalhada, uma suburbana e operária Tebes, onde os deuses tomam a forma do cego, mas igualmente transcendente, imperativos da sociedade." Os melhores expoentes deste ânimo são seu desertor em Quai des Brummes [Cais das Sombras] (38, Marcel Carné) e François, em Le Jour se Lève [Trágico Amanhecer] (39, Carné), um operário aleijado, azarado, mas romanticamente destemido: "Você sabe quando está esperando por um bonde e está chovendo muito - o bonde não para (...). Ding, ding! Lotado, lotado. Os bondes passam todos (...). Ding! E você fica lá, espera (...). Mas agora você está comigo, tudo vai ser diferente." O sonho afogado por névoa e miséria é a essência da poesia de Carné/Prévert, mas esta é uma conquista limitada, comparada com a obra de Gabin para Renoir: o herói condenado em Les Bas-Fonds [O Submundo] (36), o homicida maquinista em La Bête Humaine [A Besta Humana] e, sobretudo, o homem comum fugitivo em La Grande Illusion [A Grande Ilusão] (37), um homem de bondade não forçada e nobreza inconsciente.
Gabin esteve no music-hall antes de sua estreia no cinema: Paris Béguin (31, Augusto Genina) e Les Gaietés de l'Escadron (32, Maurice Tourneur). Em meados dos anos 30 já estava estabelecido: Maria Chapdelaine (34, Julien Duvivier); Zouzou (34, Marc Allégret), com Josephine Baker; Variétés [Variétés (Os 3 Diabos)] (35, Nikolas Farkas); Golgotha [O Mártir do Gólgota] (35, Duvivier); La Bandéra [A Bandeira] (36, Duvivier); La Belle Équipe [Camaradas] (36, Duvivier); Pépé le Moko [O Demônio da Argélia] (37, Duvivier), fenomenal com Mireille Balin em Guelle d'Amour [Gula de Amor] (37, Jean Grémillon); o capitão do rebocador em Remorques [Águas Tempestuosas] (41, Grémillon).
Foi à América durante a guerra - estava tendo um caso apaixonado com Marlene Dietrich - e apareceu em Moontide [Brumas] (42, Archie Mayo) e The Imposter [O Impostor] (44, Duvivier), mas retornou para se juntar à França Livre, e nunca mais se aventurou em uma carreira internacional: Martin Roumagnac [Mulher Perversa] (46, Georges Lacombe), com Dietrich; Au-Delà des Grilles [Três Dias de Amor] (48, René Clément); excelente como um restaurador normando enrabichado por uma garçonete em Le Marie du Port [Maria Abrasadora] (50, Carné); La Vérité sur Bébé Donge [Amor Traído] (51, Henri Decoin); Le Plaisir [O Prazer] (52, Max Ophüls); La Minute de Verité [Amar-te é Meu Destino] (52, Jean Delannoy); Touchez-pas au Grisbi [Grisbi, Ouro Maldito] (54, Jacques Becker); L'Air du Paris (54, Carné); e como o empresário Danglars em French Can Can (55, Renoir), sentado nos bastidores em uma cadeira enorme, enquanto seu can-can irrompe, demasiado nervoso para assistir, mas incapaz de impedir seu pé de bater no ritmo.
Após isto, Gabin trabalhou com diretores medíocres e com entusiasmo decrescente. Ele e a Nouvelle Vague não se deram bem, e é particularmente lamentável que nunca tenha trabalhado para Melville: Razzia sur la Chnouf [Antro do Vício] (54, Decoin); La Traversée du Paris [A Travessia de Paris] (56, Claude Autant-Lara); Crime et Châtiment [Crime e Castigo] (56, Georges Lampin); Voici le Temp des Assassins [Sedução Fatal] (56. Duvivier); Maigret Tend un Piège [Assassino de Mulheres] (57, Delannoy); Les Miserábles [Os Miseráveis] (57, Jean Paul le Chanois). Contemplando divertidamente a Bardot nua em En Cas de Malheur [Amar é Minha Profissão] (58, Autant-Lara); Archimède le Clochard [Arquimedes, o Vagabundo] (58, Gilles Grangier), a partir de uma ideia de Gabin; Le Baron de l'Ecluse [O Vigarista] (59, Delannoy); Le Président [O Presidente] (61, Henri Verneuil); Monsieur (64, le Chanois); L'Âge Ingrat (64, Grangier); Du Rififi à Paname [Crime no Asfalto] (65, de la Patellière); Le Tonnère de Dieu [Sombras no Meu Passado] (65, de la Patellière); Le Pacha [O Paxá] (67, Georges Lautner); Le Clan des Siciliens [Os Sicilianos] (69, Verneuil); Le Chat [O Gato] (71, Pierre-Granier Deferre); como o fazendeiro em L'Affaire Dominici [O Caso Dominici] (73, Claude-Bernard Aubert); e Verdict [A Sentença] (74, André Cayatte).
Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Cinema. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 976-78.
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