O Dicionário Biográfico de Cinema#75: Philip Yordan
Philip Yordan (1913-2003), n. Chicago
Livros de consulta sobre filmes possuem dados essenciais: os créditos dos filmes. No entanto, quem passar algum tempo contemplando o produto, ou escutando as histórias contadas por homens e mulheres, sabe que os créditos não são confiáveis. Para ficar em um exemplo: sim, Ronald Colman, Douglas Fairbanks Jr. e Mary Astor estão em Prisioner of Zenda [O Prisioneiro de Zenda], de Selznick, filme creditado ao diretor John Cromwell, e aos roteiristas John L. Balderston e Wells Root. No entanto existe uma documentação inquestionável que George Cukor e Woody Van Dyke filmaram algumas cenas, e que Sidney Howard as reescreveu em parte. E, por fim, existe a lenda da interferência crônica selznickiana, de roteiristas entrando e saindo do escritório, acrescentando um diálogo aqui, outro acolá.
O roteiro de um filme são muitas coisas, ou versões, pelo caminho. Ao final, ele é a transcrição de um filme acabado que pode envolver estruturas somente percebidas na sala de montagem, bem como diálogos enrolados em lábios mais resistentes. O roteiro está sempre mudando, e existem pessoas que tiveram vidas ocupadas e bem pagas, observando mudanças que dificilmente um crédito apresentaria. Alguns roteiristas são doutores; e quase todos os roteiristas sentem-se mal rápida ou posteriormente.
Philip Yordan é incluso aqui como uma bóia para demarcar uma área de redemoinho, correntes cruzadas, rochas e destroços. Yordan fez seu nome por todo lugar - e foi uma carreira bastante ilustre. E ninguém sequer argumentou, que ele foi um soberbo empresário, um homem de negócios, trapaceiro, homem do dinheiro. Mas ele escreveu "seus" roteiros, ou dependia de autores anônimos na listra negra, jovens dispostos, ou mesmo do conforto de estranhos? Yordan foi um homem real, porém muito mais que uma coletânea de anedotas e rumores. Alguns dizem que nunca escreveu uma linha. Dificilmente um crédito permanece livre de disputa ou dúvida. Ele pode ter escrito tudo, ou nada. A verdade nunca será conhecida, e se Yordan era o autor pela metade, como alguém suspeita, então está além da consideração. O leitor interessado pode ser encaminhado a uma longa entrevista com Yordan, por Patrick McGilligan, em Backstory 2. Não resolverá nada, mas proporcionará um penetrante relato de como é o submundo do cinema, e efetuará uma inadvertida explanação do porque tantos filmes serem sobre homens duros, solitários e deprimidos, que não podem parar de agir.
Escreveu uma peça, Anna Lucasta, que é um comentário sobre Anna Christie, de O'Neill. Bacharelou-se em direito, embora tenha negado, ainda que alguns digam que somente contratou uma substituta para assistir às aulas por ele. E então, os bons escritórios de William Dieterle o levaram a Hollywood. Yordan conseguiu companhias fascinantes: Dieterle seria seguido pelos Irmãos King (da Monogram), Sidney Harmon, Anthony Mann, Nicholas Ray, Samuel Bronston e o ator Robert Shaw. E os filmes nos quais reinvindicou estar não foram menos impressionantes - e não seria difícil se ver um padrão de solitários durões, situações perigosas, mulheres lacônicas, e finais condenados:
All That Money Can Buy [O Homem que Vendeu a Alma] (41, Dieterle); Syncopation [Cavalgada de Melodias] (42, Dieterle); The Unknown Guest (43, Kurt Neumann); Johnny Doesn't Live Here Anymore [44, Joe May); When Strangers Marry [Uma Estranha Aventura] (44, William Castle); Dillinger (45, Max Nosseck), que lhe deu uma indicação ao Oscar de roteiro original; The Chase [A Senda do Temor] (46, Arthur Ripley); Whistle Stop [Por Causa de uma Mulher] (46, Léonide Moguy); Suspense [Delírio] (46, Frank Tuttle); Bad Men of Tombstone [O Último Malfeitor] (48, Neumann); House of Strangers [Sangue do Meu Sangue) (49, Joseph L. Mankiewicz) - que Yordan escreveu o argumento, Mankiewicz reescreveu-o como um roteiro e então retirou o seu nome quando o Sindicato dos Roteiristas insistiu em dar algum crédito a Yordan; Anna Lucasta (49, Irving Rapper); Reign of Terror [A Sombra da Guilhotina] (49, Mann); Edge of Doom [Alma em Revolta] (50, Mark Robson); Detetective Story [Chaga de Fogo] (51, William Wyler); Drums in the Deep South [Os Tambores Rufam ao Amanhecer] (51, William Cameron Menzies); Mara Maru (52, Gordon Douglas); Mutiny [Motim Sangrento] (52, Edward Dmytryk); Houdini [Houdini, o Homem Miraculoso] (53, George Marshall); Blowing Wild [Sangue da Terra] (53, Hugo Fregonese); Man Crazy [A Tragédia de um Erro] (53, Irving Lerner), que também co-produziu; The Naked Jungle [A Selva Nua] (54, Byron Haskin); Johnny Guitar (54, Ray) - um dos créditos mais contrariados; Broken Lance [Lança Partida], pelo qual ganhou um Oscar, porque é uma nova versão de Sangue do Meu Sangue; Conquest of Space [A Conquista do Espaço] (55, Haskin); The Man from Laramie [Um Certo Capitão Lockhart] (55, Mann); The Last Frontier [O Tirano da Fronteira] (55, Mann); The Big Combo [Império do Crime] (55, Joseph H. Lewis); The Harder They Fall [A Trágica Farsa] (56, Mark Robson), que também produziu; Joe MacBeth [56, Ken Hughes); Four Boys and a Gun [Quatro Rapazes e um Revólver] (57, William Berke); Men in War [Os que Sabem Morrer] (57, Mann) - no qual parece claro que Ben Maddow deu uma mão; No Down Payment [A Mulher do Próximo] (57, Martin Ritt); Street of Sinners [Rua dos Fracassados] (57, Berke); The Bravados [Estigma da Crueldade] (58, Henry King); God's Little Acre [Rincão de Deus] (58, Mann); Island Woman [Feitiço Tropical] (58, Berke); The Fiend Who Walked the West [O Terror do Oeste] (58, Douglas); Anna Lucasta (58, Arnold Laven); Day of the Outlaw [Quadrilha Maldita] (59, André De Toth); The Bramble Bush [Espinhos da Carne] (59, Daniel Petrie); Studs Lonigan [Uma Vida em Pecado] (60, Irving Lerner), que produziu; King of Kings [Rei dos Reis] (61, Ray); El Cid [61, Mann); 55 Days at Peking [55 Dias em Pequim] (62, Ray); The Day of the Triffids [O Terrror Veio do Espaço] (62, Steven Sekely); The Fall of the Roman Empire [A Queda do Império Romano] (64, Mann); Battle of the Bulge [Uma Batalha no Inferno] (64, Ken Annakin); Circus World [O Mundo do Circo] (64, Henry Hathaway); Custer of the West [Os Bravos Não se Rendem] (68, Robert Siodmak); Royal Hunt of the Sun [Real Caçador do Sol] (69, Lerner); e Captain Apache [Capitão Apache] (71, Alexander Singer).
Após isso, Yordan trabalhou em filmes religiosos e produzidos para o mercado de vídeo. Portanto, longe de se estabelecer com uma distinta aposentadoria, parecia perseguir as camadas inferiores da produção de filmes.
Texto; Thomson, David. The Biographical Dictionary of Film. Nova York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 2896-8.
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