Filme do Dia: O Príncipe Encantado (1957), Laurence Olivier

 


O Príncipe Encantado (The Prince and the Showgirl, Reino Unido/EUA, 1957). Direção: Laurence Olivier. Rot. Adaptado: Terence Rattigan, a partir de sua própria peça. Fotografia: Jack Cardiff. Música: Richard Addinsell. Montagem: Jack Harris. Dir. de arte: Roger K.Furse & Carmen Dillon. Com: Laurence Olivier, Marilyn Monroe, Jeremy Spenser, Sybil Thorndike, Richard Wattis, David Horne,  Jean Kent, Harold Goodwin.

Londres, 1911. Dentre os aristocratas que se encontram presentes para a coroação do Rei George V, encontra-se o Grão-Duque Charles (Olivier), regente de seu país, a Carpátia, nos Balcãs, enquanto seu filho Nicholas (Spenser), de 16 anos, não pode assumir o poder. Indo a uma apresentação teatral, Charles fica instantaneamente atraído por uma atriz americana de pequeno papel na representação, Elsie (Monroe), cujo nome artístico é Elsie Marina e a convida a Embaixada, onde se encontra hospedado. Na manhã seguinte, Charles pretende se livrar o mais rápido possível de Elsie, porém essa recebe um convite da Rainha Dowager,  (Thorndike), ex-sogra de Charles,  para a coroação O que inicialmente era mero desejo se transforma em algo mais no coração pouco afetuoso do rígido Charles. Marina, por sua vez, torna-se uma ponte entre a difícil relação afetiva e interesses políticos divergentes de pai e filho.

Talvez não exista filme mais anômalo à filmografia de Monroe ou, ao menos, da Monroe pós-estrelato. De fato foi a única co-produção em que trabalhou, o único filme que realizou fora de seu país e rodeada por uma trupe de atores britânicos com quem nunca contracenara, nem voltaria a fazê-lo. Porém, sobre o volumoso manto das aparências a personagem vivida pela atriz é a que já estava incrustado em sua persona, a da loira sexy e completamente incapaz de perceber seu próprio potencial, algo que sua amiga já apresenta, sem menor cerimônia, a deixa, que é menos para si que para o espectador (“pergunta difícil essa”) para sua indagação (“por que eu? Possuo apenas uma ponta no segundo ato”). Piscadela que se estende à própria imagem grave-empostada de aristocrata de Olivier, como se encarnando e escarnecendo ao mesmo tempo do culto norte-americano aos atores britânicos, dos quais ele era divindade por excelência então. Porém, a ingenuidade a respeito de seu próprio “potencial” aqui possui menor consistência que nas suas contrapartes norte-americanas, já que é a própria Marina quem ditará as regras do jogo, reproduzindo a estratégia de sedução com os mesmos truques que lhe foram dispensados ao início. E sobre a aparência da comédia sofisticada se esconde a da farsa mais redundante, com um príncipe duro e anti-sentimental que, através dos encantos de Marina, descobre a linguagem do amor, passando por cima dos protocolos e convenções sociais. Equilibrando entre a bobajeira sentimental e um certo cinismo, como se um duplo do próprio personagem vivido por Olivier, é interessante que Marina nunca deixe de lembrar os presentes que lhe foram dados pelos aristocratas e sempre se encontre de olho nos pequenos e valiosos objetos que a rodeiam. E, ainda mais surpreendentemente, de forma positiva, que ao final o conto de fadas se realize apenas por dois dias -  o que não deixa de ser ressaltado pelo mesmo figurino que Marina usa praticamente do ínicio ao final -  cada um seguindo seus passos depois, mesmo com um relance de promessa de um reencontro posterior vislumbrado, mas negado de última hora, por parte de Charles. Utiliza o mesmo insistente voyeurismo com o qual pretende descrever a pompa da aristocracia britânica, sobretudo através da imponência de seus ambientes, como uma catedral que há pouco utilizara, para descrever o andar de Marilyn, aparentemente um pouco acima do peso, ao acordar de manhã cedo, na embaixada, e se tornar motivo de constrangimento para o príncipe. Por mais que a presença de Thorndike represente o talento dos atores britânicos, seu personagem soa, na verdade, um tanto desnecessário. Os bastidores dessa produção são retratados em Sete Dias com Marilyn (2011), de Simon Curtis. Destaque para a exuberante fotografia de Cardiffl que ressalta a dedicada direção de arte e, sobretudo, o prazer visual proporcionado pelo plano que, do alto, observa em perfeita sincronia os casais a rodopiarem no baile. Warner Bros./Marilyn Monroe Prod. para Warner Bros. 112 minutos.

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