Filme do Dia O Messias (1975), Roberto Rossellini

 


O Messias (Il Messia, Itália/França, 1975). Direção: Roberto Rossellini. Rot. Original: Silvia D´Amico Bendico & Roberto Rossellini. Fotografia: Mario Montuori.  Música: Mario Nascimbene. Cenografia: Osvaldo Desideri & Giorgio Bertolini. Com: Pier Maria Rossi, Mita Ungaro, Carlos de Carvalho, Yatsugi Khelil, Jean Martin, Fausto Di Bella, Antonella Fasano, Vernon Dobtcheff, Cosetta Pichetti, Flora Carabella.

Jesus (Rossi) se destaca como pregador e desperta a ira dos próprios judeus, que temem a repressão que possa ocorrer por parte dos romanos. Um de seus discípulos mais próximos, João Batista (Carvalho) se torna prisioneiro dos romanos, e numa festa é condenado a morte pela cortesã Salomé, sob influência de uma das amantes de Pilatos, Erodiade (Carabella). Jesus arrebanha seus discípulos, é expulso dos templos judaicos, livra Maria Madalena (Fasano)de ser apedrejada, realiza a última ceia e pressente sua captura e morte, que logo ocorre. Entregue pelos próprios judeus nas mãos de Pilatos (Martin), acaba sendo crucificado por decisão dos judeus. Alguns dias após, Maria (Ungaro) corre para as catacumbas onde se apregoa que seu corpo desapareceu.

Esse que é o último longa-metragem de Rossellini e mais uma das diversas biografias que filmou no final de sua carreira (entre elas, Sócrates, Pascal e Cartesius), é não somente um comovente filme-testamento quanto uma das mais belas adaptações dentre as inúmeras realizadas sobre a vida de Cristo. Sua força advém tanto de seu visual poético, simples e direto, a partir da fluência de seu trabalho de câmera que mesclado às cores e ao movimento dos personagens traduzem lirismo e graça quanto de sua notável elipse com relação a muitos dos trechos mais tradicionalmente explorados pelo seu potencial melodramático, sendo o maior exemplo a concisão com que se refere ao momento da crucifixação, ressaltando a dimensão da vida ao contrário de uma elegia da morte. Para salientar o momento de perda faz uso então da bela trilha musical, até então praticamente ausente. Nesse sentido, vai em completa oposição ao voyeurismo a partir do gozo com o sofrimento que praticamente trespassa A Paixão de Cristo de Mel Gibson do início ao final. Aqui, mesmo com uma produção bem mais limitada e talvez por isso mesmo, a simplicidade e a recusa de uma excessiva empostação nas mensagens de Jesus aliadas às soberbas locações, traduzem um realismo menos literalmente epidérmico que o da super-produção norte-americana e mais próximo de ser comparado ao de Pasolini com seu O Evangelho Segundo São Mateus (1964). Ainda que a dimensão cristã possa ser percebida em praticamente toda a obra do cineasta, encontra-se de maneira mais direta em filmes como o episódio O Amor para produção de mesmo nome (1948) e  Francisco, Arauto de Deus (1950). FR3/Orizzonte 2000/Procinex/Teléfilm. 140 minutos.

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