Filme do Dia: A Luta pelo Transporte em São Paulo (1952), João Dória
A Luta pelo Transporte em São Paulo
(Brasil, 1952). Direção: João Dória. Fotografia: René Persin.
Como é regra nos curtas produzidos por
Jean Manzon, mesmo que esse curta aparente em um ou outro momento apresentar um
nível de criticidade em relação à insuficiência dos serviços de transporte
oferecidos aos trabalhadores na “cidade que mais cresce em todo o mundo”, esse
mote, em última instância, dá-se como mais um mecanismo para melhor azeitar a
máquina da produtividade, pois são produções movidas ao ufanismo pelo progresso
que bem estariam enquadradas dentro do lema da bandeira brasileira. Igualmente
como regra trata-se de uma produção que contava provavelmente com o melhor
aparato ténico entre os então presentes no mercado do documentário de curta
duração. Assim, se existe uma visão panorâmica que apresenta um razoável
formigueiro humano a esperar por suas conduções em uma gigantesca praça ou
terminal, muitos cortes em uma montagem dinâmica apresentarão o outro lado da
moeda, para quem pende quase por absoluto o documentário, o da administração
pública. Fala-se do exorbitante aumento dos custos no que diz respeito a cada
nova viatura, ao combustível, às baterias e as peças em geral, assim como no
treinamento de novos aprendizes de motorista. É curioso o tom que é destinado
aos retirantes nordestinos. Enquanto esses são observados aglomerados em
paus-de-arara de reconhecida precariedade como a própria narração admite
posteriormente, logo quando surgem a voz over está se referindo a São Paulo ser
“o ponto de convergência de todos os países” só depois acrescentando “de
brasileiros de todos os estados”, criando um senso de estigmatização por demais
desnecessário aqueles que já o eram (e são). O transporte típico utilizado por
eles, anteriormente restrito apenas às viagens inter-regionais, agora são
vistos no interior da própria metrópole moderna, sendo uma nódoa em suas
pretensões de auto-identfiicação enquanto cidade cosmopolita, como se os dois
processos em si não tivessem qualquer
vinculação, só faltando existir leis que proibissem tais transportes para
salvaguardar esteticamente a cidade – como é o caso apresentado em O Carroceiro (1963), no Senegal.
Finalizando sua prédica, digna da sociologia funcionalista, com seu fecho em
tom altissonante como a música que o acompanha, a afirmar: “Esta esperança [a
de ter um transporte urbano de qualidade] com a colaboração de todos nós” sobre
uma imagem panorâmica distanciada da cidade favorecendo a parte de maior
concentração de prédios elevados. Jean Manzon Filmes. 9 minutos e 35 segundos.
Comentários
Postar um comentário