Filme do Dia: Johnny Guitar (1954), Nicholas Ray

 


Johnny Guitar (EUA, 1954). Direção: Nicholas Ray. Rot. Adaptado: Philip Yordan, a partir do romance de Roy Chanslor. Fotografia: Harry Stradling Sr. Música: Victor Young. Montagem: Richard L. Van Enger. Dir. de arte: James W.Sullivan. Cenografia: Edward G.Boyle & John McCarthy Jr. Figurinos: Sheila O’Brien. Com: Joan Crawford, Sterling Hayden, Mercedes McCambridge, Scott Brady, Ward Bond, Ben Cooper, Ernest Borgnine, John Carradine.

Tendo ajudado uma gangue de ladrões de banco, da qual o líder, Dancin’ Kid (Brady) é apaixonado por ela, Vienna (Crawford), mulher de forte personalidade e dona do saloon gera o ódio mortal de Emma (McCambridge), que teve um irmão morto pela ação dos bandidos e também é apaixonada por Johnny Guitar (Hayden), que vem a ser ninguém menos que o afamado pistoleiro Johnny Logan, que vivenciou um romance cinco anos atrás com Vienna e retorna ao local justamente nesse momento de extrema tensão. Após um assalto a banco quando Vienna se encontrava no local, Emma vai até o saloon em busca de alguma pista que a incrimine. O mais jovem membro da gangue, Turkey (Cooper) se encontra ferido lá e após conseguirem que ele denuncie mentirosamente Vienna para salvar o seu pescoço, são ambos condenados à forca. Após Turkey ser enforcado e quando Emma é a única a ter coragem para fazer o mesmo com Vienna, Johnny Guitar salva-lhe a vida. Com o saloon em chamas por obra de Emma, eles se refugiam com a gangue fugitiva e após uma tentativa de traição mal sucedida por um membro da gangue, Bart (Borgnine), Vienna tem seu embate final com Emma.

Mesmo produzido por um estúdio menor, fica notória não apenas a habilidade de Ray lidar com as cores (sendo talvez um dos poucos filmes-chaves de Crawford realizado em cores) como uma notória evocação do Macarthismo na perseguição insana a Vienna, que ao mesmo tempo pode ser lida como um embate feminino contra aquela que possui maior desenvoltura e autonomia, sendo a Vienna de Crawford uma personagem proto-feminista – e nenhuma cena pode explicitar mais isso que a hilária em que após Kid e Johnny terem medido suas forças, ela praticamente ordena que o último sente, sendo prontamente obedecida. Por mais que o filme se distancia bastante do western convencional, e em certo sentido, seja praticamente uma provocação a esse e seus códigos tipificados das relações de gêneros, como no caso do confronto final, dando-se em um embate em que os homens apenas assistem, entre as duas antagonistas femininas, pode-se quase ouvir as exigências de Crawford de que sua figura seja talhada à parte, mítica e imponente, através da iluminação e com figurinos que ressaltam essas características do início ao final. Nenhuma cena talvez seja mais marcante que a que o grupo trajando negro invade o saloon de Vienna e essa, em um impecável e contrastante vestido branco, dedilha o piano – ressaltada por Scorsese em seu Uma Viagem Pessoal pelo Cinema Americano  - Parte 2- embora o filme se ressinta talvez da compressão temporal em que a narrativa ocorre e só de fato engrene da metade ao final. Se Crawford num único momento talvez escorregue feio em suas caras e bocas típicas de estrela, no caso durante a fuga com Johnny quando tropeça nas pedras, McCambridge talvez lhe roube o melhor momento, que é uma de intenso júbilo furioso repleto de ressentimento histérico, naquele mesmo em que abandona o saloon em chamas. Hayden, por sua vez, soa um tanto canastrão enquanto o personagem-título e o Bart de Borgnine carrega no rosto a humilhação sofrida na luta que teve com esse até o final, enquanto o insípido Kid Dançarino, de Brady, que mal consegue disfarçar a sua aparência de galã dos fimes de recorte contemporâneo da época, é algo surpreendentemente morto com um tiro no meio da testa, recurso talvez raro então. Aparentemente a versão padrão é cinco minutos mais longa. National Film Registry em 2008.  Republic Pictures. 105 minutos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso