Filme do Dia: Canção da Primavera (1923), Igino Bonfioli & Cyprien Segur

 


Canção da Primavera (Brasil, 1923). Direção: Igino Bonfioli & Cyprien Segur. Rot. Adaptado: Aníbal Matos, a partir de sua própria peça. Fotografia: Igino Bonfioli. Dir. de arte: Igino Bonfioli & Aníbal Matos. Com: Ari de Castro Viana, Osiris Colombo, Lucinda Barreto, Iracema Aleixo, Naná Andrade, Nina Gomes, Clementino Dotti, Odilardo Costa, Alberto Gomes.

Luiz Roldão (Viana) prometeu ao seu pai, no leito de morte, que casaria alguém de sua família com a família dos Bento. Seu filho, Jorge (Costa), prometido a casar com Rosita (Barreto), é completamente apaixonado por outra, Lina (Aleixo) que, por conta de sua situação social humilde, mesmo correspondendo ao amor de Jorge, decide abandonar a fazenda e morar em situação de penúria com o avô. A irmã de Jorge, Salustiana (Gomes) também acalenta um amor, aparentemente impossível, pelo poeta algo errante Juca Barbeiro (Gomes).

Mesmo que bastante irregular, disperso e demasiado repleto de personagens, o filme nos brinda aqui e acolá com pequenos achados visuais que destoam de sua habitual planificação, como é o caso do primeiro plano da reação apoplética de Jorge da recusa atormentada de Lina de seu amor. Dado o seu amadorismo, maior parte das vezes bem disfarçado, não se sabe se o avô olha de soslaio quando acode Lina após a desavença com seu amado, buscando indicação do realizador para cena ou observando Jorge, que se encontra fora de campo. Como em outros filmes da década (Fragmentos da Vida, por exemplo) a divisão em partes não necessariamente significa corte narrativo, aqui se continuando, como naquele, com a mesma cena da parte recém-finda. Torna-se cansativo, a determinado momento, por conta de sua insistência única e exclusiva, como a do sexo em um filme pornográfico, nos amores e afetos de todos os personagens, tendo a figura do Padre Belisário como mediador e figura que não parece ter outra função que apaziguar os ânimos dos corações ardentes – exclusivamente os vinculados à família Bento. Destaque para as convenções nas quais se tingia cenas a noite com colorações arroxeadas e como o filme não apenas tira belo partido das mesmas, como ainda muda o tingimento para amarelo quando a jovem se aproxima com candeeiro na mão do padre que se encontrava no escuro, novamente voltando a cor anterior quando esssa adentra seu quarto (ou seja, não parece haver outra motivação para a cena que apresentar o belo efeito das transições). Mesmo que sua excessiva dependência das tramas afetivas dos personagens que circulam pela fazenda traiam sua origem nos palcos, seu uso massivo de locações atenua esta origem como talvez as produções da Cinédia, a partir de meados da década seguinte, não conseguirão fazê-lo. Campeão do pathos excessivo, lacrimoso e descontrolado, a pesonagem de Jorge é não menos que patética. Outras surgem apenas de forma muito deslocada e pontual. Os diálogos, repletos de rompantes não apenas literários, mas mesmo parnasianos, estão longe de serem exceção à época. Não menos incomum é a presença de canções sendo executadas, das quais só temos notícias das letras pelas cartelas (caso igualmente de Aitaré da Praia) e do envolvimento efetivo de seu executor. Seu desfecho é tão pouco econômico quanto o resto da narrativa. Bonfioli Filmes. 108 minutos.

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