Filme do Dia: A Noite (1961), Michelangelo Antonioni

 


A Noite (La Notte, Itália/França, 1961). Direção: Michelangelo Antonioni. Rot. Original: Michelangelo Antonioni, Ennio Flaiano & Tonino Guerra, sob argumento dos três. Fotografia: Gianni Di Venanzo. Música: Giorgio Gaslini. Montagem: Eraldo Da Roma. Dir. de arte: Piero Zuffi. Com: Marcello Mastroianni, Jeanne Moreau, Monica Vitti, Bernhard Wicki, Rosy Mazzacuratti, Maria Pia Luzi, Guido A. Marsan, Vittorio Bertolini, Vincenzo Corbella, Gitt Magrini.

Giovanni Pontano (Mastroianni) é um aclamado escritor que visita, com sua mulher, Lidia (Moreau) o amigo em estado terminal Tommaso (Wicki). Após saírem do hospital, Lidia decide ir passear pelos subúrbios de Milão. Ambos participam do lançamento do livro de Pontano pouco depois.  À noite, ela prefere ir a um casa de espetáculos do que a recepção dos Ghirardinis, ao qual foram convidados. Logo depois, no entanto, vão à recepção na mansão da família, onde Giovanni se encanta pela filha do casal, Valentina (Vitti) e Lidia quase cede aos encantos de outro homem, Roberto (Negro).

O segundo filme do que ficou conhecido como a “trilogia da incomunicabilidade” não possui o mesmo encanto visual e prazer que acompanham as duas realizações que o antecedem e sucedem respectivamente, A Aventura (1959) e O Eclipse (1962). O mais soturno dos três, parece descrever a mesma elite enfastiada e fútil que Fellini se detera no contemporâneo A  Doce Vida, sem o tom féerico e histérico desse. Moreau vivencia uma protagonista que aparentemente chega quase a buscar uma saída para o fracasso afetivo de sua relação com Giovanni e a própria falta de sentido e orientação maior da sua vida em aventuras sexuais – algo implícito em seu passeio “voyeurístico” pelos subúrbios de Milão e a quase concretização de um encontro com um convidado da festa. Há uma evidente defasagem, como no caso da personagem de Vitti das outras duas produções, assim como de Deserto Vermelho (1964), entre a sensibilidade da protagonista e o que o mundo concreto lhe tem a oferecer. Trata-se também do filme que menos explora dentre os três as magníficas composições visuais e uma montagem mais seca e incisiva. Destaque para a bela fotografia de Venanzo, habitual colaborador de Antonioni e falecido precocemente. De qualquer modo é um dos marcos do cinema moderno, representado sobretudo pelo ritmo lento e falta de motivação de seus personagens, afastando-se de uma tentativa mais evidente de psicologização dos mesmos tal como será tentada por outro realizador seminal para o cinema moderno, Bergman.  Sem dúvida, influenciou bastante o menos afortunado Noite Vazia (1964), de Khouri. Urso de ouro no Festival de Berlim. Nepi Film/Silver Films/Sofitedip. 122 minutos.

 

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