Filme do Dia: Panorama do Cinema Brasileiro (1968), Jurandyr Noronha
Panorama do Cinema Brasileiro (Brasil, 1968). Direção e Rot. Original: Jurandyr Noronha. Música: Francisco Mignone. Montagem: Júlio Heilborn.
Essa rara antologia do cinema brasileiro realizada no
próprio suporte do meio que pretende apresentar – outras produções semelhantes
se restringiram a um ciclo específico como Assim Era a Atlântida, que se deteve sobre as chanchadas – por si só já
representa um louvável interesse historiográfico. Acompanha a trajetória desde
os Irmãos Segreto, os Lumière do cinema brasileiro, dos quais não restaram mais
que fotos deles próprios e dos equipamentos que utilizavam até as produções
mais recentes do Cinema Novo como A Hora e a Vez de Augusto Matraga (1965), de Roberto Santos e O Padre e a Moça (1966), de Joaquim Pedro de Andrade. Dito isso,
convém ressaltar que o viés sobre o qual aborda a filmografia brasileira é
grandemente herdeiro dos próprios colaboradores do filme como Rubem Biáfora
(que tem seu Ravina longamente
incensado) e Adhemar Gonzaga (que é a única exceção entre realizadores,
produtores e artistas em geral a se dar voz, ainda que sem qualquer explicação
adicional ou legenda que o identifique e faça uma relação imediata com o
produtor que foi de extrema relevância para o cinema brasileiro nos anos 1920
a 1940). Sua opção por longas seqüências e reduzidos comentários dos filmes
selecionados bem poderiam sugerir a prevalência do texto fílmico como objeto de
análise, como passou a defender contemporaneamente a essa produção uma certa
tendência da crítica francesa de influência estruturalista. Porém, pelo
contrário, parece ser antes sintomático de uma certa vacuidade crítica, com
pérolas como “Limite é o auge da avant-garde francesa no Brasil.” Há uma
evidente valorização dos filmes isolados tanto das tendências gerais que os
conformaram quanto do próprio contexto no qual foram realizados e uma
valorização, sobretudo, da evolução tecnológica e do reconhecimento em
festivais internacionais como parâmetro para a avaliação dos filmes em questão.
Sobre O Cangaceiro (1953), de Lima
Barreto, por exemplo, comenta-se que foi o maior êxito do cinema brasileiro até
hoje, sem especificar que tal sucesso diz respeito às bilheterias. E, após
apresentar produções do Cinema Novo mais recentes, acaba retornando no tempo
para encerrar com O Pagador de Promessas
(1962), de Anselmo Duarte, que por ter levado a Palma de Ouro no Festival de
Cannes, é tido como precursor de todo um novo estilo de se fazer cinema, o que
não é bem verdade. De qualquer modo, o que provavelmente reside de maior
interesse nessa antologia seja sua forçosa construção diferenciada da que
normalmente se vê nos textos acadêmicos, que se tornaram quase que
integralmente tributários da corrente crítica-historiográfica que se seguiu a
essa, com influência quase que completa de partidários do Cinema Novo. E, em
decorrência de tal estratégia, a exibição de trechos de filmes pouco conhecidos
como Bonequinha de Seda (1936), de
Oduvaldo Vianna e Pureza (1940), de
Chianca de Garcia, não por acaso ambos produzidos por Gonzaga. Ou ainda a
predileção de um filme com maior marca de produtor, O Beijo (1964), de Flávio Tambellini para ilustrar o universo
cinematográfico de Nélson Rodrigues em detrimento do mais autoral A Falecida (1965) de Leon Hirszman. Seu
tom politicamente correto se refere às chanchadas apenas como “comédias da
Atlântida”. Aitaré da Praia (1925), Brasa Dormida (1928), São Paulo, A Sinfonia da Metrópole
(1929), Alma do Brasil (1932), Alô, Alô Carnaval (1935), Argila (1940), Romance Proibido (1944), Caiçara
(1950), Amei um Bicheiro (1952), Simão, O Caolho (1952), Sinhá Moça (1953), Uma Pulga na Balança
(1953), Rio, 40 Graus (1955), Estranho Encontro (1958), O Homem do Sputnik (1959), Mulheres e
Milhões (1961), Assalto ao Trem
Pagador (1962), Os Cafajestes (1962),
Noite Vazia (1964), Vidas Secas
(1964), Deus e o Diabo na Terra do Sol
(1964), Menino de Engenho
(1965), São Paulo S/A (1965), entre outros, também compõem a seleção.
INC.134 minutos.
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