Filme do Dia: Sinhá Moça (1953), Tom Payne & Oswaldo Sampaio

 


Sinhá Moça (Brasil, 1953). Direção Tom Payne & Oswaldo Sampaio. Rot. Adaptado Fabio Carpi, Tom Payne, Oswaldo Sampaio, Carlos Vergueiro & Guilherme de Almeida, a partir do romance de Maria Camila Dezonne Pacheco Fernandes. Fotografia Ray Sturges. Música Francisco Mignone. Montagem Edith Hafenrichter & Oswald Hafenrichter. Dir. de arte João Maria dos Santos. Figurinos Sophia Magno de Carvalho. Com Eliane Lage, Anselmo Duarte, Esther Guimarães, José Policena, Ruth de Souza, Eugenio Kusnet, Marina Freire, Lima Neto, Henricão.

Quando retorna à fazenda do pai escravocrata, Sinhá Moça (Lage) se interessa no trem pelo jovem que a galanteia, Rodolfo (Duarte). Fugas de escravos estão ocorrendo no momento da chegada deles. Pouco tempo depois, Sinhá Moça recebe a caixinha de música que Rodolfo lhe apresentara no trem. Ela volta de São Paulo com ideias abolicionistas, para o desgosto familiar, já que o pai possui uma fazenda escravista. Seu interesse por Rodolfo entra em conflito no momento decisivo da revolta dos escravos, fugidos após atearem fogo na senzala, cansados dos maus tratos do Coronel Lemos Ferreira (Policema), pai dela. No momento de fuga, um dos escravos, Justino (Henricão), ficando para trás, atira contra Rodolfo. Este é ferido de raspão no ombro. Capturado, durante seu julgamento, seu advogado de defesa será surpreendentemente Rodolfo, e no meio das querelas do processo, chega a notícia sobre a abolição da escravidão.

O fausto relativo em relação ao que se produzia na época já se encontra à mostra em seus primeiros minutos, caso da cenografia a imitar um coche de trem, o virtuoso e fluido movimento de câmera de Sinhá Moça a sair com sua madrinha e o jovem com o qual flertara, os figurinos, as caracterizações dos atores, assim como da vila em termos de reconstituição histórica. É uma pena o filme ter sobrevivido em condições tão precárias quanto a sua banda sonora, virtualmente impossível de ser ouvida. Apesar das boas intenções progressistas com relação à escravidão e, como lembra Stam, da situação de inconformismo dos escravos com sua condição, condição esta completamente naturalizada e aceita em filmes como ...E O VentoLevou, talvez uma produção temporalmente mais próxima fosse mais produtiva de ser comparada, apesar dos inúmeros elementos comuns de ambas as produções, o filme é marcado pelo racismo involuntário. Caso da fala do frade ao trazer de volta o negro fugido Fulgêncio, referindo-se ao feitor ter a alma mais negra que a pele do escravo, para ficar em um exemplo. A maestria técnica, sempre um item a saltar dos olhos na maior parte dos filmes do estúdio, aqui possui seu ápice na cena da dança da valsa de Sinhá Moça com Rodolfo, com um fundo em movimento. A cena mais espetacular é  a do refém dos escravos na ponte férrea. A ascendência da história romântica entre Moça e Rodolfo, inclusive fazendo o último mudar sua opinião a respeito da escravidão, cede temporariamente espaço para a da fuga dos escravos por um longo segmento. Destaque para o momento do discurso no qual Rodolfo defende involuntariamente uma teoria do branqueamento, pois afirma ser a única diferença entre os escravos e os cidadãos a cor, mas no futuro nem isso será. E sua magnanimidade, segundo a ótica do filme, chega ao ponto de advogar justamente a favor do escravo que atirara contra si.  Embora surja com mais de meia-hora de filme, Ruth de Souza traz um desempenho de longe mais eficiente que os de Lage ou mesmo Anselmo Duarte. Infelizmente boa parte do acervo do estúdio, incluindo fortemente esta produção, sobreviveu com bandas sonoras de muito difícil acompanhamento básico mesmo dos diálogos, algo tornado menos problemático apenas no terço final, que acompanha a fuga e posterior julgamento.| Estúdios Vera Cruz. 106 minutos.

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