"Aqui sim está o cerne de todo o mal! Nas palavras! Todos trazemos dentro de nós um mundo de coisas; cada um seu mundo próprio! E como podemos nos entender, meu senhor, se coloco nas minhas palavras o sentido e o valor das coisas que estão em mim; ao passo que aquele que as ouve só pode apreendê-las segundo o sentido e valor de seu mundo? Acreditamos nos entender, mas não nos entendemos nunca!"

"Para mim, meu senhor, o drama consiste pura e simplesmente nisso:  em sua consciência cada um acredita ser 'um', mas é, na verdade, 'muitos'. Conforme a todas as possibilidades de ser que existem dentro de nós: 'um' com este, 'um' com aquele outro - inteiramente diferente! E isso sempre na ilusão de ser 'um para todos', e até mesmo sempre 'aquele um' pelo qual nos tomamos a nós mesmos em todas as nossas ações. Isso, porém, não é verdade! Não é verdade! Só percebemos isso quando nos vemos de repente, por alguma infelicidade, presos a uma ação qualquer. E então  sentimos - me parece - que não somos idênticos a essa ação, que não estamos inteiramente contidos nela, e que seria uma tremenda injustiça julgarmo-nos a partir dela, querer como que prender a ela toda a nossa existência, como se ela fosse uma só e a mesma coisa que essa ação."

Se a primeira citação nega a possibilidade de entendimento através da linguagem, a segunda se dirige contra a ação como forma válida de objetivação do sujeito. Contra a profissão de fé da forma dramática, que toma o diálogo e a ação - justamente no que eles tem de definitivo - como expressão adequada da existência humana, Pirandello vê neles uma limitação intolerável e deletéria da diversidade infinita da vida interior.

Peter Szondi a partir de duas citações extraídas de Seis Personagens à Procura de um Autor, de Luigi Pirandello, Teoria do Drama Moderno, p. 130.


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