Filme do Dia: Ceddo (1977), Ousmane Sembene

Ceddo (Senegal, 1977). Direção e Rot.Original: Ousmane Sembene. Fotografia: Georges Caristan. Música: Manu Dibango. Montagem: Florence Eymon. Com: Tabata Ndiaye, Moustapha Yade, Ismaila Diagne, Matoura Dia, Omar Gueye, Mamadou Dioumé, Makhouredia Gouye, Nar Modou, Ousmane Camara.
         O rei dos Ceddo (Dia) faz um pacto com os muçulmanos, para o desagrado de boa parte de seus súditos, que sequestram  sua filha, a Princesa Dior (Ndiaye). Alguns pretendentes ao trono tentam libertar a princesa e são mortos. Enquanto isso, o Imã (Gueye) converte toda a tribo ao islamismo, batizando-os com nomes islâmicos, após aparentemente ter assassinado o rei. Algumas lideranças vão atrás de Dior, e essa retorna a aldeia assassinando o Imã, na frente de todos.
        Sembene, pioneiro do cinema africano, investe em uma dramaturgia de contornos quase épico-teatrais, em que a fala ganha sempre uma dimensão que ultrapassa a individual, e os silêncios, por vezes de vários minutos (os primeiros diálogos do filme surgem após quase 5 minutos), assim como sua belíssima fotografia em cores, ajudam a desenvolver uma trama que, ao contrário de outro realizador exponencial africano, mesmo abordando igualmente uma sociedade tradicional, Souleymane Cissé, não o faz a partir do interior do próprio mito. Fazendo uso bastante acentuado do zoom e apresentando toda a trama a partir de um distanciamento tanto dramático quanto propriamente visual, não se trata exatamente de um filme fácil. Falado principalmente na língua wolof e com legendas em francês, trata-se do típico exemplo de cinema de autor a conquistar alguma repercussão internacional junto aos festivais. Sembene faz uma ponta, como um dos ceddo a serem “batizados”. Seu estilo épico, algo distanciado do que descreve, mesmo tomando colorações francamente anti-muçulmanas em relação à influência dessa religião– o que levaria o filme, inclusive, a ser censurado durante muitos anos no Senegal -  evoca o de Gláuber Rocha e pode ter sido influenciado pelo mesmo. Films Domireew/Sembene. 120 minutos.


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