Filme do Dia: Romance Proibido (1944), Adhemar Gonzaga

 


Romance Proibido (Brasil, 1944). Direção: Adhemar Gonzaga. Rot. Original: Benjamin Costallat & Adhemar Gonzaga. Fotografia: A. P. Castro & George Fanto. Dir. de arte: Hippólito Collomb & George Fanto. Figurinos: Hippólito Collomb & Iracema Gomes Marques. Com: Lúcia Lamar, Milton Marinho, Nilza Magrassi, Déa Robine, Jararaca, Roberto Lupo, Dercy Gonçalves,  Aurora Aboim, Anita D´Alva.

Gracia Rangel (Lamar) é um tipo sedutor que se envolve com Carlos Modesto (Marinho), homem de negócios e morador de uma pequena cidade, que se muda para realizar contatos profissionais no Rio de Janeiro. Enquanto vivem uma tórrida paixão, Tamar (Magrassi), noiva de Carlos, perde o pai em um acidente de automóvel. Carlos resolve retornar para Tamar. Gracia decide então, com a desilusão amorosa, dedicar-se à vida profissional de professora. Aprovada em um concurso, vai para uma pequena cidade, a mesma na qual Carlos e Tamar se preparam para casar, e empreende um projeto de alfabetização exemplar. Tamar, ex-colega de Gracia nos tempos de internato, tenta reaproximar-se da amiga, que se esquiva por conta de Carlos. Esse decide fugir com Gracia, mas o carro enguiça no caminho. Quando vê seu trabalho ser reconhecido, sendo o município o que possui menor índice de analfabetismo, Gracia opta por ir para uma nova cidade que nem escola possui, para tentar esquecer de vez a paixão por Carlos e não ser um obstáculo ao casamento de Tamar.

Melodrama que, juntamente com Aves sem Ninho (1939), de Raoul Roulien e Argila (1940), de Humberto Mauro, a partir de uma figura feminina, procura esboçar em termos dramatúrgicos uma visão otimista para as ações sociais desenvolvidas no campo do trabalho e/ou – no caso em questão – na educação. Porém, acaba se contaminando, como o filme de Mauro, por um pessimismo romântico que está longe de conseguir transmitir a mensagem de exaltação cívica irrestrita do filme de Roulien. Muito influencia nesse resultado a opção por se interessar bem mais pela trama melodramática – ao menos na versão atual do filme, que contém seqüências perdidas – que pela descrição da missão profissional de Gracia, momento no qual os outros dois filmes mais exploraram abertamente sua dimensão ideológica. Assim como igualmente a própria interpretação de Lamar, quase completamente despida de vivacidade desde o momento que Carlos a abandonou, como se o processo de sublimação para a tarefa pedagógica estivesse longe de se concretizar de todo, soando grandemente inverossímil, portanto, todo o êxito alcançado em tão curto período – mais uma vez um ônus que pode estar vinculado às seqüências que não sobreviveram na cópia atual, restaurada pela Cinédia, com indicações e alguns stills que fazem menção aos trechos desaparecidos, estratégia louvável e recorrente nas versões contemporâneas de filmes do cinema mudo (a exemplo de uma versão de Metropolis). Como no filme de Mauro, há uma longa seqüência de dança que pretende, sem grande sucesso, explorar algo de nossa “brasilidade”, inclusive com um viés erótico, ausente da sofrível seqüência de dança “indígena” de Argila. Entre inúmeras artistas posteriormente consagrados que fizeram pontas se encontram Grande Otelo, Dercy Gonçalves (em sua primeira aparição no cinema), Fada Santoro e o próprio Adhemar Gonzaga, que considerava esse seu filme preferido. Ainda que as filmagens tenham iniciado em 1939, o filme só seria concluído em 1944, devido sobretudo a falta de filme virgem no mercado nacional com a Segunda Guerra Mundial. Sua versão original contava com 95 minutos. Cinédia. 65 minutos.

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