Filme do Dia: Noite Vazia (1964), Walter Hugo Khouri


Noite Vazia - 17 de Agosto de 1964 | Filmow
Noite Vazia (Brasil, 1964). Direção e Rot. Original: Walter Hugo Khouri. Fotografia: Rudolf Icsey. Música: Rogério Duprat. Montagem: Mauro Alice. Dir. de arte: Pierino Massenzi. Cenografia: Sílvio Campos. Com: Mário Benvenutti, Gabriele Tinti, Norma Bengell, Odete Lara, Lisa Negri, Marisa Woodward, Anita Kennedy, Célia Watanabe, Wilfred Khoury.
Amigos da alta sociedade paulistana decidem partir para mais uma noite de diversão.  O mais loquaz, Luisinho (Benvenutti) se despede da mulher e do filho (Khoury) e encontra Nelson (Tinti) , mais introspectivo. Após irem a um bar onde não gostam do movimento fraco, deslocam-se a uma casa de sushi, em que acabam convidando as prostitutas de luxo, Regina e Mara (Glória e Benguell respectivamente) que se encontram com um conhecido de Luisinho, que passou a dormir, completamente embriagado. Eles vão para uma garconnière onde vivenciam uma noite entre afagos e, sobretudo, tensões. Mesmo que originalmente Luisinho fique com Mara e seu amigo com Regina, é a inversão dessa formação que permanece até o dia amanhecer, quando Luisinhoi afirma que já está completamente cansado daquilo e as resolve deixar na rua, após as entregar mais uma vez uma quantia generosa de dinhero, convidando seu amigo para uma noitada no dia seguinte.
Mesmo o filme mais conhecido de Khouri e talvez seu melhor torne-se vítima de sua pomposidade e artificialismo com que descreve os aparentes dramas existenciais de seus protagonistas que, juntamente com um efetivo trabalho de enquadramento em conjunção com a montagem, são mais evocativos de Antonioni do que propriamente de Bergman, com o qual habitualmente foi sempre mais comparado. A comparação é, no final das contas, em tudo desfavorável a Khouri. Enquanto Antonioni consegue não apenas apresentar de modo convincente as neuroses de suas heroínas, ao mesmo tempo remetendo para questões que dizem respeito a política italiana e mundial, a partir sobretudo de um enorme talento iconográfico, Khouri se restringe a seu drama intimista, sendo aqui as figuras masculinas que ganham proeminência. O senso de passividade do amigo de Benvenutti, que praticamente o obedece de forma inerte e passa a maior parte do filme com a mesma máscara catatônica de melancolia  é não menos  que caricato. E, certamente pior, tampouco o filme consegue sobreviver por si só em termos de originalidade, ao contrário das influências externas de realizadores contemporâneos ou pouco posteriores como Gláuber Rocha ou Rogério Sganzerla. A consistência dramático-existencial de seus personagens se relaciona em proporção inversa ao apelo erótico embutido mesmo no caso em questão, marcado pela impotência e pela imaturidade erótica. A contraposição entre o mais assertivo e debochado Benvenutti e seu amigo mais tímido e frágil se reflete igualmente na dupla feminina, cada par encontrando seu equivalente. Sua pretensão de tentar exibir sofisticação através não apenas de elementos formais mas dos objetos e ambientes, além dos trejeitos dos atores, inclusive das prostitutas (que, não se pode esquecer, são de alto luxo) são uma armadilha quase tão traiçoeira em termos de cópia de um cinema autoral europeu quanto os dramas góticos e a produção da Vera Cruz de modo geral o fora na década anterior. Os atores, com exceção de Tinti (à época casado com Benguell), saem-se de um modo geral bem, não sendo propriamente culpa deles o tom maquínico e afetado que pretende simular profundidade existencial a partir de um registro único, sendo quase perversa a comparação com a paleta de emoções apresentadas pelos mesmos personagens nos filmes de Antonioni e sobretudo Bergman. E enquanto nos filmes do primeiro as neuroses de suas heroínas representam uma cartografia da crescente impossibilidade da satisfação afetiva e pessoal num mundo crescentemente coisificado, aqui tal vácuo não parece avançar além do próprio vazio. Kamera Filmes/Vera Cruz Studios para Cinedistri. 93 minutos.


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