Filme do Dia: Effi Briest (1974), Rainer Werner Fassbinder
Effi Briest (Effi Briest, Alemanha Ocidental, 1974). Direção:
Rainer Werner Fassbinder. Rot. Adaptado: Rainer Werner Fassbinder, adaptado do
romance de Theodor Fontane. Fotografia: Jürgen Jürges & Dietrich Lohmann.
Montagem: Thea Eymész. Dir. de arte:
Kurt Raab. Figurinos: Barbara Braun. Com: Hanna Schygulla, Wolfgang Schenck,
Ulli Lommel, Lilo Pempeit, Herbert Steinmetz, Ursula Strätz, Irm Hermann,
Karlheinz Böhm, Karl Scheydt, Barbara Lass, Rudolf Lenz, Eva Mattes, Andrea
Schober, Theo Tecklenburg.
A jovem Effi Briest (Schygulla), aos 17 anos, é recomendada
pelos pais para casar com o já maduro e também rico Barão von Instetten (Schenck).
Porém, logo o casamento se transforma num fardo para Effi, que passa a viver no
campo. Suas limitações culturais a impedem de freqüentar o círculo de seu
refinado marido, que viaja a maior parte do tempo. Sentindo-se só e
entediada, Effi ainda é atormentada por ruídos que acredita serem do chinês que
vivera na casa anteriormente. A proximidade do Major Crampas (Lommel) a faz
voltar sentir atração pela vida. Logo, se tornam cúmplices e amantes. O Barão
não vê com bons olhos a amizade de ambos e se sente aliviado quando é
transferido para Munique. Certo dia, no entanto, descobre a correspondência
secreta dos amantes e, mais por se sentir no dever perante à sociedade que por
espontânea vontade, bate-se num duelo matando Crampas. Com o escândalo, Effi
torna-se uma criatura que vive completamente à margem da sociedade, passando
anos sem ter contato com a filha e sendo apoiada somente pela fiel camareira
Roswitha (Strätz). Adoecida, com muita relutância é aceita novamente pelos
pais, depois dos rogos do médico que a visitou. Pede que seu túmulo possua
apenas o nome de solteira, e aceita que o marido se encontrava com a razão de
ter agido assim para com ela.
Essa rigorosa adaptação de Fontane marcada pelos tons
brancos de suas poéticas fusões – que evoca o igual uso do recurso, na
coloração vermelha, por Bergman em Gritos
e Sussurros – explora o quanto às convenções sociais conferem estreitos
papéis aos indivíduos, tema recorrente em boa parte da obra do cineasta. Nesse
sentido, apontam tanto o comportamento mais explícito do Barão, que se vê
dividido entre o desejo pessoal e o bem público, e acaba por acreditar que o
segundo é o único possível após ter confidenciado o segredo da traição da
esposa ao seu melhor amigo, quanto o dos pais de Effi, principalmente a
rigorosa mãe que há todo momento reforça que a culpa fora dela própria.
Revertendo às expectativas do gênero, no entanto, a própria protagonista,
bastante avançada para os valores de sua época (numa conformação mais terna e
menos radical de outra figura feminina deslocada em seu tempo, a Geesche de Afinal, uma Mulher de Negócios) tende igualmente
ela, por fim, a ceder à pressão social e, no leito de morte, fazer uma mea culpa de toda sua revolta contra as
convenções morais de sua época (nesse sentido o filme sendo menos esquemático e
idealista na sua afirmação da protagonista que o anterior). Até mesmo depois de
morta, ironicamente seus pais ainda debatem sobre se foram severos demais ou de
menos com a filha. Trata-se da primeira incursão do cineasta no drama de época,
porém mesmo sendo uma produção com maior requinte que o habitual (até mesmo
pelas exigências de se tratar justamente de um drama histórico), não
cede aos encantos vazios de uma mera concepção visual elaborada, mas igualmente
mantém seu distanciamento emocional, presente tanto na contenção das
interpretações quanto na narração off e nos recorrentes comentários
escritos. Tango Film. 140 minutos.
Vi o filme há dois anos. Seu comentário elucidativo o reavivou na minha mente. Mais surpreendente que Fassbinder fazendo um drama de época em P&B só seria se a protagonista não tivesse uma personalidade própria. Fassbinder sabia muito bem sobre ser constrangido por convenções sociais rígidas e hipócritas. Não é dos mais festejados do diretor, mas acho um dos melhores que já vi dele.
ResponderExcluirSim, concordo com você Gustavo! Tenho apreço por esse filme também. Grato por seu comentário!
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