Filme do Dia: Marcha de Heróis (1959), John Ford


Marcha de Heróis (The Horse Soldiers, EUA, 1959). Direção: John Ford. Rot. Adaptado: John Lee Mahin & Martin Rackin, a partir do livro de Harold Sinclair. Fotografia: William H. Clothier. Música: David Buttolph. Montagem: Jack Murray. Dir. de arte: Frank Hotaling. Cenografia: Victor A. Gagelin. Figurinos: Frank Beetson Jr. & Ann Peck. Com: John Wayne, William Holden, Constance Towers, Judson Pratt, Hoot Gibson, Ken Curtis, Willis Bouchey, Bing Russell, Althea Gibson.

Um batalhão de cavalaria é enviado ao encalço das linhas confederadas. No meio do grupo se encontra um cirurgião Henry Kendall (Holden) que, desde o início, passa a atritar com o coronel John Marlowe (Wayne), o líder e estrategista da operação, por suas posições moderadas, que geralmente se chocam contra o ímpeto belicoso de Marlowe. Os planos secretos de Marlowe são escutados por uma bela garota do Mississipi que hospeda os oficiais em sua casa, sendo ela, a srta. Hannah (Towers) e sua criada pessoal, Lukey (Gibson), tornadas reféns do grupo e, após algumas tentativas mal sucedidas de fuga, Hannah se torna cada vez mais atraída pela “moralidade excêntrica” de John. John e Kendall chegam as vias de fato, após mais uma discussão, mas a briga deles é interrompida por uma ofensiva confederada. Recuando para não terem que atacar um batalhão de garotos recém-saídos de uma escola militar, eles se tornam vítimas de um cerco. Mesmo após a morte e ferimento de muitos de seus mais fiéis companheiros de batalha, Marlowe decide pela continuidade da luta, enquanto Kendal decide ficar, assim como Hannah.

        Produção luxuosa que talvez tenha querido seguir os passos do clássico Rastros de Ódio, tendo sido inclusive o filme que iniciou a onda dos salários milionários para os astros (Holden e Wayne, bem entendido, inclusive a relação entre os personagens que vivem, como de praxe, sendo bem mais complexa e efetiva que a do herói com a mocinha, vivida pela carismática e ainda relativamente inexperiente Constance Towers) e acabou por se tornar um fracasso de público e crítica. Ford retrata os sulistas com um paternalismo que chega a ser constrangedor e nunca tão forte quanto na sequencia que apresenta o batalhão de crianças avançando, tendo como líder um alquebrado idoso de aparência muito pouco guerreira. Ainda que a figura de Wayne ganhe uma carga de nuance impensável para os filmes do gênero pouco tempo antes, tentando fazer frente as atualizações, inclusive do western de perfil psicologizante, como os de Nicholas Ray (Paixão de Bravo, Johnny Guitar), não existe sombra de dúvida sobre quem atrairá de fato os belos olhos azuis de Hannah. E se por acaso Marlowe é capaz o suficiente de muito ocasionalmente reconhecer seus erros e se sentir culpado, por exemplo, pela morte da ama de Hannah e por todo o sofrimento que lhe infligiu ao longo da jornada, é igualmente a representação “populista” de um “líder nato” que forjou o seu caráter na estrada de ferro e não em West Point, como alguém chega a indagar, a certo momento. Ele tem uma bala extraída da pele sem necessitar se embriagar como todos os outros, porém não deixa de se desestabilizar emocionalmente quando percebe que uma de suas ações provocou a morte de um jovem a quem assiste nos últimos momentos de vida. E é a esse perfil anti-intelectual e evidentemente mais mobilizador da ação que o espectador é levado a se identificar ainda que seu contraparte racional e menos impulsivo-emotivo não venha a ser demonizado, como muitas vezes ocorria então em situações similares. Pelo contrário, trata-se do reconhecimento de um rival eticamente à altura, ainda que um pouco menos dotado de bravura viril. Não faltam alguns enquadramentos que remetem vagamente ao clássico de 3 anos antes, mas o resultado aqui é bem mais modesto, seja visualmente, seja em termos de desenvolvimento narrativo. Tendo tido um dublê veterano morto em uma queda de cavalo, o filme teve suas filmagens em locação na Louisiana suspensas e a continuidade sido filmada na Califórnia. Trata-se da única vez, além da sequencia do filme coletivo A Conquista do Oeste, realizado pouco depois, que Ford retratou uma história ambientada na Guerra Civil. A relativa ambiguidade ao final da narrativa, embora soe demasiado moderna, é uma licença poética algo permitida ao gênero. The Mirisch Corp./Mahin-Rackin para United Artists. 115 minutos.


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