Filme do Dia: O Testamento do Sr. Napumoceno (1997), Francisco Manso

O Testamento do Sr. Napumoceno (O Testamento do Sr. Napumoceno, Brasil/Portugal/Cabo Verde/França/Bélgica, 1997). Direção: Francisco Manso. Rot. Adaptado: Germano de Almeida & Mário Prata baseado no romance de. Fotografia: Edgar Moura. Música: Tito Paris&Toy Vieira. Montagem: Luís Sobral. Com: Nelson Xavier,  Maria Ceiça,  Chico Díaz,  Zezé Motta ,  Vya Negromonte, Milton Gonçalves,  Francisco de Assis,  Karla Leal, Cesária Évora, Tiago Gonçalves,   Tiago Mayer.
     O Sr. Napumoceno (Xavier), um dos homens mais influentes de Cabo Verde, morre e gera expectativas positivas em seu sobrinho e parente mais próximo Carlos (Diaz) e negativas em Graça (Ceiça) e sua mãe. Porém, apesar de Carlos já se encontrar plenamente integrado nos negócios do tio, quem acaba recebendo a herança integralmente é Graça, que passa a morar no palacete que era de Napumoceno. Junto com a herança, ela também ganhou uma coleção de cassetes com depoimentos de Napumoceno desde o final dos anos 50, período em que iniciou seu negócio, ao mesmo tempo que acabou engravidando uma empregada sua, mãe de Graça até sua morte em meados dos anos 70. Escutando as fitas, Graça conhece algumas aventuras do pai, como o caso com uma famosa dançarina da África francesa, que lhe deixou com gonorreia, assim como sua meteórica ascensão nos negócios, através de ideias como distribuir brindes de uísque para os clientes preferenciais nas festas de final de ano, ou ainda encomendar mil guarda-chuvas que acabaram se transformando em dez mil por falha do telegrafista. Para grande sorte de Napumoceno, no entanto, chove sem parar no país que nunca chovia - a sua utilização original dos guarda-chuvas seria para proteger do sol. Da mesma forma seu compromisso de negócio que também termina em cama com uma caboverdiana instalada em Boston, faz com que Napumoceno desista da vida política após se eleger vereador e que se transforme em uma espécie de figura-chave nas relações diplomáticas entre os dois países. Graça também se comove com o final amargo da vida de Napumoceno, onde à decadência fisica soma-se a carência afetiva por não se encontrar junto das duas únicas mulheres que realmente amou na vida, ela própria e Adélia (Leal), uma jovem que descobre e se apaixona pouco antes de morrer, com quem vive uma relação praticamente platônica, que se encerra com a chegada do amante da jovem. Graça, embora também escute o desprezo que o pai nutre por seu primo Carlos, ávido para se apossar de seus negócios, apaixona-se igualmente por ele.
          Primeira co-produção entre o Brasil, Portugal e Cabo Verde, o filme está longe de ser satisfatório, seja devido ao seu ritmo modorrento, as interpretações canhestras e caricatas (com o agravante de alguns atores sequer se darem ao trabalho de tentar falar com sotaque caboverdiano como é o caso da personagem de Adélia), má qualidade técnica, indefinição entre o dramático e o cômico etc. Para complicar ainda mais existe   a falta de originalidade de um tema que mescla todos os clichês de um subromance regional (ou telenovela regional), querendo explorar o “exótico” associado a cultura caboverdiana, aliás imensamente subaproveitada em momentos como a ponta que faz a cantora-símbolo do país, Cesária Evora e o realismo fantástico tipo exportação - a chuva inexplicável após a encomenda dos guarda-chuvas e uma providencial ida à igreja. A falta de consistência seja da veia dramática, seja da veia cômica, acaba inviabilizando qualquer interesse que vá além das belas locações, acabando por provocar momentos patéticos como a comemoração do Sr. Napumoceno na chuva, a despedida final de Adélia ou as rídiculas cenas de amor, que nem conseguem ser cômicas nem eróticas. Uma das situações “dramáticas” do filme, a da relação entre os primos, é esquecida no final. Outra, relativa a instabilidade política após a Revolução dos Cravos, para dar uma coloração histórica, surge do nada e para o nada retorna.  J.L. Vasconcelos Lda/ Radiotelevisão Portuguesa (RTP)/ ADR Productions/ Cobra Films/ Cineluz - Produções Cinematográficas Lda/  Instituto Caboverdiano de Cinema)/  Instituto Português da Arte Cinematográfica e Audiovisual .117 minutos.


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