Filme do Dia: Aldeia de Roupa Branca (1939), Chianca de Garcia



Aldeia da Roupa Branca (Portugal, 1939). Direção: Chianca de Garcia. Rot. Original: Ramada Curto, Chianca de Garcia, F. Gomes Ferreira & José Gomes Ferreria. Fotografia: Aquilino Mendes. Música: Raul Ferrão, Raúl Portela & Jaime Silva Filho. Montagem: Vieira de Souza. Com: Beatriz Costa, Manuel Santos Carvalho, José Amaro, Óscar de Lemos, Elvira Levez, Armando Machado, Octávio de Matos, Jorge Gentil, Hermina Silva.

Gracinda (Costa) é uma lavadeira de roupa apaixonada pelo bonitão Chico (Amaro), filho de Tio Jacinto (Carvalho), o padrinho com quem vive. Chico, no entanto, vive em Lisboa e os negócios de Tio Jacinto vão mal, pois ele não consegue mais dar conta de comandar todos os seus empregados. Gracinda tem a idéia de buscar Chico de Lisboa para assumir os negócios. Ela o convence e ele passa a ser o cocheiro da carroça que transporta carga e pessoas. No embate com seu rival, a carroça de Tia Quitéria (Velez), ocorre um acidente. É o período das festividades de São João, e as bandas rivais de música contratadas por Tio Jacinto e a viúva Quitéria entram em confronto aberto. Chico é  seduzido a ser o chofer do carro de uma famosa cantora de fado (Silva) e seu amante, voltando a morar em Lisboa. Tio Jacinto, desgostoso, vende todos os animais e o equipamento de transporte para sua rival. Gracinda parte novamente atrás de Chico. Quando todos achavam que Tio Jacinto se encontrava derrotado, chegam Chico e Gracinda com um caminhão novo para fazer o transporte da população local. A Viúva Quitéria percebe o quanto fora lograda.

Esse, que é último filme de Costa, é bem menos interessante do que A Canção de Lisboa (1933). O que havia de humor relativamente debochado no naturalismo do primeiro aqui se torna veículo para uma insossa exaltação paternalista de um Portugal pastoral, cujos conflitos tacanhos e provincianos entre cidades vizinhas, mesmo possuindo grande espaço, acabam sendo remediados pela paz “interessada” de seus contendores. Mesmo que o motivo principal para o fim da contenda em seu clímax, a briga generalizada no meio da praça, seja menos sentimental ou patriótico do que propriamente monetário, o que faz o filme se encontrar distante de ser uma peça de propaganda mais explícita tal como as produções brasileiras contemporâneas, não há como negar que tudo aqui  é percebido por um olhar mais “domesticado”. Seja a própria Costa, longe da ambiguidade marota da heroína do filme anterior e sempre disposta a correr atrás de seu amado, seja as intromissões das canções, menos articuladas e mais convencionais do que as do filme anterior. À montagem virtuosamente feérica que rende, inclusive, momentos como o de uma sucessão de planos/contraplanos entre Jacinto e a Viúva Quitéria filmados a partir de duas câmeras, bastante inusitados, de provável influência soviética, não passa de virtuosismo vazio sem qualquer expressividade maior. Esse seria o último filme de Garcia em Portugal, realizando ainda dois longas no Brasil nos anos seguintes. Espetáculos d´Arte. 92 minutos.


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