Filme do Dia: Rastros de Ódio (1956), John Ford
Rastros de Ódio (The Searchers, EUA, 1956). Direção: John
Ford. Rot. Adaptado: Frank S. Nugent, baseado no romance de Alan Le May.
Fotografia: Winton C. Hoch. Música: Stan Jones & Max Steiner. Montagem:
Jack Murray. Dir. de arte: James Basevi & Frank Hotaling. Cenografia:
Victor A. Gangelin. Com: John
Wayne, Jeffrey Hunter, Vera Miles, Ward Bond, Natalie Wood, John Qualen, Olive
Carey, Henry Brandon, Hank Worden, Beulah Archuletta, Lana Wood, Pippa Scott.
Texas, 1868. Ethan Edwards (Wayne) volta para a sua
família após anos afastado, tendo participado da Guerra da Secessão. Percebe
indícios de que um ataque dos Comanches se fará iminente. Porém, quando retorna
a casa da irmã, encontra todos massacrados, saindo a procura das crianças
Debbie (Lana Wood) e Lucy (Scott), com um grupo grande de homens, comandados pelo
reverendo e capitão Samuel Johston (Bond). Acreditando que se trata de uma
estratégia ineficaz sair com um grupo tão grande, após um combate vigoroso com
os índios que resulta em várias mortes desses. Parte então com Martin Pawley
(Hunter), adotado pela família massacrada e o rapaz que era namorado de Lucy.
Edwards descobre que Lucy está morta, mas somente relata aos rapazes muito
tempo depois. Desesperado, o rapaz é vítima de sua fúria, por sua reação
intempestiva, morrendo igualmente nas mãos dos índios. Sobram apenas Ethan e
Martin. Em uma longa carta endereçada ao seu amor, a jovem Laurie Jorgensen
(Miles), Martin se refere inclusive ao seu “casamento” involuntário com uma
índia comanche, Look (Archuletta), que foge ao saber que eles buscam o chefe índio Scar
(Brandon). Após cinco anos de procura, Ethan e Martin encontram Scar e Debbie
(Natalie Wood). Ethan chega a pensar em matá-la quando a vê convertida em uma
típica comanche, mas Martin reage à idéia, acreditando que poderá trazê-la de
volta ao convívio dos brancos. Indo isoladamente até a aldeia comanche, Martin é
flagrado por Scar com Debbie e mata-o. Seu tiro funciona como um sinal para o
ataque surpresa, com a ajuda da cavalaria do exército. Ethan persegue Debbie,
para o desespero de Martin, mas logo cede aos seus encantos e a leva de volta
ao convívio dos brancos, partindo novamente sem destino.
Esse que é um dos maiores filmes de Ford e do gênero
western, faz uso das grandiosas paisagens do Monument Valley, onde o cineasta
habitualmente filmava suas sagas, de uma forma nunca antes ou depois presente
no cinema, com uso de tela panorâmica (sistema VistaVision, rival do
CinemaScope) e fortes cores em tons alaranjados, assim como seus poéticos enquadramentos
que vislumbram a imensidão da paisagem, a partir de molduras como uma porta de
cabana ou uma caverna. O personagem de Wayne, talvez o mais famoso de sua
carreira, embora resolutamente inimigo dos índios, já demonstra um maior teor
de ambiguidade, como que pressentindo que o extermínio completo dos indígenas
significará sua própria desnecessidade nesse novo contexto social (angústia que
se encontrará no personagem do matador de Cangaceiros de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Gláuber Rocha, explicitamente
influenciado pelo personagem de Wayne). Nesse sentido, sua pedagogia ao jovem
iniciante Martin, tem como contrapartida a necessidade de aprender a ser mais
tolerante – ainda que o próprio Martin, cansado de ser perseguido pela índia
que acredita ser ele seu marido, provoca uma das cenas mais anti-politicamente
corretas de toda a história do cinema, chutando-a para longe de suas cobertas.
Cumpre ressaltar a magnífica coreografia das cenas de batalha, particularmente
o ataque final a aldeia indígena e a sua cena mais clássica, quando a resolução
do conflito dramático se dá, após a perseguição de Debbie à cavalo até uma boca
de caverna (curiosamente filmada em dois estados diferentes). National Film Registry em 1989. C.V. Whitney
Pictures/Warner Bros. 120 minutos.
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