Filme do Dia: A Longa Caminhada (1971), Nicolas Roeg
A Longa Caminhada (Walkabout,
Reino Unido, 1971). Direção: Nicolas Roeg. Rot. Adaptado: Edward Bond, a partir
do romance de James Vance Marshall. Fotografia: Nicolas Roeg. Música: John
Barry. Montagem: Antony Gibbs & Alan Pattillo. Dir. de arte: Brian Eatwell & Terry Gough.
Com: Jenny Agutter, Luc Roeg, David Gulpilil, John Meillon, Robert McDarra,
Peter Carver, John Illingsworth, Hilary Bamberger.
Adolescente (Gutter) e o irmão mais jovem (Roeg) ficam entregues ao
vasto deserto após o pai tentar matá-los e se suicidar. Os dois vagam a esmo
pelo deserto, precariamente alimentados e cada vez mais enfraquecidos pela caminhada
e pelo sol. Encontram um aborígene (Gulpilil), que os apresenta diversas
técnicas de sobrevivência no deserto. A convivência dos três é pacífica até o
momento em que o aborígene inicia uma dança de acasalamento. Incapaz de
perceber a importância do ritual, a garota o ignora e ele se enforca. Ela parte
com o garoto por uma estrada, chegando a uma vila e depois retornando a
Inglaterra.
Roeg, em sua estréia solo apresenta uma metáfora por vezes nada sutil
de quanto os ocidentais são muito mais destrutivos que o nativo. A temporada de
contato íntimo e necessário com a natureza é evocada nostalgicamente a posteriori num clima próximo da Lagoa Azul (1980), de Randall Kleiser. O
nativo acolhe a garota de bom grado e a torna, juntamente com seu irmão, parte
de sua própria família. Quando os dois voltam à civilização, no entanto, eles
são tratados do modo mais truculento possível pelo primeiro branco que voltam a
encontrar. E, mais importante, o próprio nativo acaba morto, mesmo tendo sido o
guardião fiel da dupla. A contraposição soa por vezes demasiado esquemática, em
sua visão idealizada da natureza assim como de seu “bom selvagem”, algo que só
se torna menos incômodo se o filme for percebido mais como alegoria do que
propriamente realista. Já a escalação equivocada do fraco garoto soa menos
defensável e somente pode ser compreendida por ser ele o filho do realizador. A
falta de “credibilidade” da dupla, principalmente do pequeno garoto, compromete
mesmo sua proposta longe de realista, ao tornar pouco crível a travessia pelo
deserto, por exemplo. O filme pode soar pretensioso e, não deixa de sê-lo de
fato, porém mesmo sendo menos interessante do que outra alegoria contemporânea,
o americano Glen and Randa,
tampouco parece destituído de qualidades, como a própria ousadia da
proposta como um todo, pouco dramaticamente convencional. Roeg não chegou ao
limite de testar a “complacência” de seu
público, fazendo com que sua dupla viva uma amor inter-cultural-racial, mas não
abriu mão de uma comunicação entre eles
bastante pontual, demarcando nitidamente os limites dos valores e da cultura de
cada um. Algo que fica marcado sobretudo
pela excelente interpretação de Gulpilil, ele próprio de origem aborígene.
Destaque para o uso intenso de fotos fixas. E para um determinado momento em
que o abate de um animal pelo aborígene é contraposto ao de um açougueiro
urbano, sem qualquer motivação diegética, numa reminiscência evocativa de Eisenstein,
mas que não chega a ser propriamente criativa em relação a outras
experimentações contemporâneas. Si
Litvinoff Film Prod. para 20th Century-Fox. 95 minutos.
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