O reflexo trêmulo das chamas batia-lhes no rosto e desfigurava-os: os olhos do padre muito mais encovados, a cana do nariz mais torta e luzidia; as bochechas da D. Violante inchadas como se tivesse a boca cheia de ar; uma recôndita sensualidade nos lábios de D. Maria dos Prazeres; a palidez de Álvaro Silvestre a resvalar num amarelo de cidra e idiotia. A D. Cláudia, não: incorruptível, pura, a mesma; não lhe toca o lume (nem a sombra) que os deforma e se ela, alma de mel translúcido, escapa ao sortilégio é que a alma dos outros não tem a mesma transparência.

Carlos de Oliveira, Uma Abelha na Chuva, p. 72.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

A Thousand Days for Mokhtar