Filme do Dia: Bande à Part (1964), Jean-Luc Godard



Bande à Part (França, 1964). Direção e Rot Adaptado: Jean-Luc Godard, baseado no romance Fool´s Gold, de Dolores Hitchens. Fotografia: Raoul Coutard. Música: Michel Legrand. Montagem: Françoise Colin, Dahlia Ezove, Agnes Guillemot. Figurinos: Christiane Fageol. Com: Anna Karina, Sami Frey, Claude Brasseur, Danièle Girard, Louisa Colpeyn, Chantal Darget, Georges Staquet, Ernest Menzer.

Odile (Karina) é uma jovem que trabalha e vive com uma senhora, Madame Victoria (Colpeyn) que possui uma fortuna em seu armário, dinheiro que lesou dos impostos. Odile conhece uma dupla de malandros no curso de inglês, Franz (Frey) e Arthur (Brasseur). O trio planeja asssaltar Madame Victoria. Na primeira tentativa, o quarto onde se encontrava a fortuna, encontra-se fechado, algo que nunca acontecera antes. O trio combina uma tentativa no dia seguinte. Porém, a dupla chega antes do horário combinado, tranca Madame Victoria em um guarda-roupa e encontra apenas uma pequena quantidade do dinheiro. Ao retornarem a Madame Victoria para saber onde se encontra o restante, a encontram aparentemente morta. Ao fugirem, Arthur entra m conflito direto com o tio (Menzer), morrendo ambos. Odile e Franz decidem partir. Norte ou Sul?  Odile tira a sorte. Sul. Brasil.

Esse notável filme de Godard, um dos mais belos de sua carreira e igualmente da Nouvelle Vague, exala o frescor de alguém apaixonado pelo cinema desde seus créditos iniciais – onde o próprio Godard assina Jean Luc “Cinema” Godard – que infelizmente se perderia pouco depois em seus filmes crescentemente engajados (a fase com o grupo Dziga Vertov) e áridos (a fase em que ele se volta novamente para um viés mais estetizante, a partir do final dos anos 70). O comentário sutilmente irônico do narrador (na voz do próprio Godard) faz digressões semelhantes a de um autor literário  auto-consciente de si próprio em relação à narrativa, mesmo que, ao contrário de Acossado, existam poucas referências diretas ao próprio espectador (como, no momento, em que a bela Odile/Karina faz um comentário direto para a câmera). Os toques de inspiração e charme se encontram ao longo de todo o filme, em grande parte derivadas da valorização dos “tempos mortos”, tais como os diálogos nonsense (posteriormente reciclados por Quentin Tarantino em filmes como Pulp Fiction) e o minuto de silêncio (na verdade, 36 segundos), referência direta ao próprio tempo cinematográfico (alusão a seqüência da bolsa de valores em O Eclipse de Antonioni?), assim como a corrida para tentar bater o recorde de visitação ao Louvre (revivida pelos personagens cinéfilos de Os Sonhadores de Bertolucci). Entre outros momentos notáveis, existe a dança do trio no bar, ao mesmo tempo paródia e tributo aos musicais americanos o estupendo plano/contraplano entre o rosto de Odile/Karine e...a efígie impressa de uma nota de dinheiro. Sem falar no livre trânsito pelas ruas de Paris e adjacências, soberbamente fotografadas em preto-e-branco que tende ao branco de uma pureza quase arrebatadora de Coutard e a trilha sonora do mestre Legrand. Assim como as referências literárias e jornalísticas (a certo momento, um dos personagens, lê no jornal manchetes criminais de Paris e sobre o conflito entre tutsis e hutus na África), que se tornarão uma das marcas registradas do realizador. Anouchka Films/Orsay Films para Columbia Films S.A. 97 minutos.




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