Se o sono é o ponto mais alto da distensão física, o tédio é o ponto mais alto da distensão psíquica. O tédio é o pássaro de sonho que choca os ovos da experiência. O menor sussurro nas folhagens o assusta. Seus ninhos - as atividades intimamente associadas ao tédio - já se extinguiram na cidade e estão em vias de extinção no campo. Com isso, desaparece a comunidade dos ouvintes. Contar histórias, sempre foi a arte de contá-las de novo, e ela se perde quando as histórias não são mais conservadas. Ela se perde porque ninguém mais fia ou tece enquanto ouve a história. (grifos meus)

Descobri esse lindo trecho de O Narrador através do  trabalho de Susana Kampff Lages, que me incitou a reler o texto de Benjamin, como toda obra que difunde o interesse pelo que admira de forma intensa o faz. Como parece distante do vazio acadêmico burocrático e institucionalizado da maior parte do que se produz na academia nos dias de hoje...A visão do tédio como força necessária para a criação espiritual, tão ricamente aludida e tão completamente comprometida em um mundo onde a experiência do narrar/escutar trespassado pela experiência tende a não mais existir.

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