Filme do Dia: Meu Irmão Nianchan (1959), Shohei Imamura
Meu Irmão Nianchan (Nianchan, Japão, 1959). Direção: Shohei Imamura. Rot. Original:
Shohei Imamura & Ichirô Ikeda. Fotografia: Shinsaku Imeda. Com: Takeshi
Okimura, Akiko Maeda, Hiroyuki Nagato, Kayo Matsuo, Kô Nishimura, Yoshio Omori,
Taiji Tonoyama, Shinsuke Ashida.
Koichi (Okimura) é
um garoto que luta contra a miséria social do ambiente no qual nasceu,
dependente de uma decadente mina de extração de carvão, situação que se agrava
quando fica órfão e o irmão mais velho Kiichi (Nagato) não consegue dar conta
de suas responsabilidades de arrimo de família. Devido as dificuldades
econômicas os quatro irmãos vivem se separando e voltando a se encontrar.
Koichi é muito próximo de sua irmã mais nova, Sueko (Maeda). Ambos são adotados
por um velho mineiro. Porém, o mineiro sofre um acidente de trabalho que
inviabiliza a permanência das crianças. Elas são então entregues a um homem
pobre que as explora impiedosamente como força de trabalho. Koichi e Sueko fogem.
Eles passam pela casa do velho mineiro e procuram acolhida na casa da
professora que os ensinara na escola. Sueko se separa de Koichi. Esse decide
partir para Tóquio, porém logo ao chegar a cidade, após a denúncia de um
homem, é reencaminhado pelas autoridades
a sua cidade natal e reencontra os irmãos.
Visualmente
portentoso, sendo que boa parte dessa força vem do modo intenso que o filme
captura a dura realidade social e o cenário natural que a emoldura, dominado de
modo um tanto opressivo pela montanha onde se situa a colina. Paralelos podem
ser traçados nesse sentido com Sublime Dedicação (1954), de Keisuke Kinoshita. Ao contrário de Kinoshita, no
entanto, o filme é bem mais esquivo ao sentimentalismo fácil. Se o comentário
social e a presença de atores amadores, assim como a maciça filmagem em
locações sugerem uma filiação ao Neo-Realismo, talvez seja mais profícuo
pensá-lo como mais próximo de uma poética naturalista. Aliás, é uma surpresa se
descobrir se tratar de um roteiro original, pois a trajetória um tanto quanto
acidentada do personagem e seus vários deslocamentos, que talvez provoquem uma
certa dispersão narrativas sobretudo em sua metade final, mais parecem uma
tentativa de dar conta de preocupação com certa “fidelidade” ao romance que lhe
teria sido fonte. Quando se compara Imamura com produções brasileiras poucos
anteriores, tais como Rio 40 Graus,
percebe-se não somente sua avantajada superioridade em termos de construção do
ambiente, direção de atores e composição da imagem, porém sem efetuar qualquer
relação dos dramas vividos pelos personagens com um panorama mais amplo dos
diversos segmentos sociais da sociedade do período, como é o caso do filme de
Nélson Pereira dos Santos. Aqui, essa dimensão é bastante secundarizada e não
chega a ser enfrentada enquanto possível conflito dramático, surgindo em cenas
esparsas como a da greve ou o do pedido de emprego do irmão mais velho junto ao
gerente da companhia. A representação de Tóquio é bastante distinta da
província em que a história é focada, sendo destacada sua modernidade. A
percepção inicial da cidade pelo garoto, por si um empreendedor e self made man tolhido pela tenra idade e
os mecanismos de controle social (dimensão que parece possuir um correspondente
ufanismo identificatório com a própria nação,
no tom de voz enfático do comentário final do garoto que voltará a Tóquio para vencer na vida no futuro)
seria o equivalente da de um nordestino chegando a São Paulo no mesmo período.
O título em português é bastante inadequado, já que Nianchan é a denominação
genérica para o segundo irmão de uma família. Nikkatsu. 101 minutos.
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