O Dicionário Biográfico de Cinema#103: Lorde Richard Attenborough



  1.  

Lorde Richard Attenborough, n. Cambridge, Inglaterra, 1923*

1969: Oh! What a Lovely War [Oh! Que Bela Guerra!]. 1972: Young Winston [As Garras do Leão]. 1977: A Bridge Too Far [Uma Ponte Longe Demais]. 1978: Magic [Um Passe de Mágica]. 1982: Gandhi. 1985: A Chorus Line [Chorus Line: Em Busca da Fama]. 1987: Cry Freedon [Um Grito de Liberdade]. 1992: Chaplin. 1993: Shadowlands [Terra das Sombras]. 1996: In Love and War [No Amor e na Guerra]. 1999: Grey Owl [O Guerreiro da Paz]. 2007: Closing the Ring [Um Amor para Toda a Vida].

Attenborough mapeou alegremente o caminho para o sucesso na indústria de cinema britânica. Ele iniciou no RADA (**), e em 1942 ganhou a Medalha Bancroft e realizou sua estreia como um marinheiro em In Which We Serve [Nosso Barco, Nossa Alma] (42, Noël Coward e David Lean). No ano seguinte, obteve grande sucesso como Pinkie na versão teatral de Brighton Rock, de Graham Greene e esteve no filme Schweik's New Adventures (Karol Lamac). Após o serviço de guerra, com a unidade cinematográfica da RAF, apareceu em The Man Within (46, Bernard Knowles), A Matter of Life and Death [Neste Mundo e no Outro] (46, Michael Powell), o filme de Brighton Rock [O Pior dos Pecados] (48, John Boulting), e London Belongs to Me (48, Sidney Gilliat). Ainda que seu papel como Pinkie fosse realmente assustador, não diminuiu a aparência de um sujo e vulnerável com cara de bebê. Este apelo juvenil foi grotescamente explorado em The Guinea Pig (49, Roy Boulting) quando, na idade de vinte e seis, interpretou um rapaz de classe baixa de Winchester de metade da sua idade - e interpretou-o honestamente. Attenborough foi tragado pelo público britânico tão suavemente como margarina por dez anos, e por dez anos aceitou qualquer coisa alegre ou nonsense heróico que a indústria o espalhou: Morning Departure (50, Roy Baker); Boys in Brown (50, Montgomery Tully); The Gift Horse (52, Compton Bennett); Private's Progress (55, J. Boulting); Brothers in Law (57, J. Boulting); The Man Upstairs (58, Don Chaffey); e Dunkirk [O Drama de Dunquerque] (58, Leslie Norman). 

Este foi o ponto de virada. Em 1959, produziu (com Bryan Forbes) e atuou em The Angry Silence [Momentos de Angústia] (59, Guy Green), uma portentosa tentativa de introduzir realismo nos longas britânicos. Na verdade, o filme é vulgar e sentimental. Somente o tema havia mudado, mas Attenborough sempre acreditou muito mais no conteúdo que no estilo, na sinceridade que na inteligência. Este filme marcou uma nova resolução de levar a si próprio seriamente. Como ator, Attenborough embarcou em alguns estudados papéis de caracterização e mesmo se aventurou em filmes americanos: The League of Gentleman [Os Sete Cavalheiros do Diabo] (60, Basil Dearden), que também produziu; Only Two Can Play [O Preço do Pecado] (61, Sidney Gilliat); The Great Scape [Fugindo do Inferno] (63, John Sturges); Seance on a Wet Afternoon [Farsa Diabólica] (64, Forbes), que produziu; The Flight of the Phoenix [O Vôo da Fênix] (65, Robert Aldrich); The Sand Peebles [O Canhoheiro do Yang-Tsé] (66, Robert Wise); Dr. Dolittle [O Fabuloso Dr. Dolittle] (67, Richard Fleischer); David Copperfield [As Aventuras de David Copperfield] (69, Delbert Mann); Loot [Escondendo a Grana] (70, Silvio Narizzano); A Severed Head [Amantes Infieis] (70, Dick Clement); e muito bom como Christie, o assassino, em 10 Rillington Place [O Estrangulador de Rillington Place] (70, Fleischer).

Em acréscimo a Os Sete Cavalheiros do Diabo e Farsa Diabólica, Attenborough produziu dois outros filmes dirigidos por Bryan Forbes - Whistle Down the Wind [Também o Vento Tem Segredos] e The L-Shaped Room [A Mulher que Pecou]. Tais riscos estimularam-no e, em 1969, dirigiu e co-produziu Oh! Que Bela Guerra! - um fracasso valente, ajudado pela habilidade de usar o pier de Brighton, mas sem qualquer interesse em fotografar as pessoas. Foi um sucesso comercial, provando o quão distante sua preferência por conteúdo foi uma falha nacional. Depois disso, mergulhou mais fundo no patiotismo com As Garras do Leão (72), um filme mais influenciado por aquele meio testa-de-ferro experiente Carl Foreman

Aos 55 anos, Attenborough ainda aparentava e se comportava como liderança-mor dos filmes britânicos e foi recompensado com um título de nobreza. Atuou regularmente: Rosebud [Setembro Negro] (74, Otto Preminger); And Then There Were None [O Último dos Dez] (74, Peter Collinson); com arreios tortos, com John Wayne em Brannigan [A Morte Segue Seus Passos] (75, Douglas Hickox); Conduct Unbecoming [A Hora do Regimento] (75, Michael Anderson); e um manipulativo administrador em The Chess Players [Os Jogadores do Fracasso] (77, Satyajit Ray). Também dirigiu o épico de Joseph Levine Arnhem, gastando 26 milhões de dólares como para-quedas de brinquedo, e lidando com o combate com o alegre entusiasmo, que desmentia o indignado horror de seu primeiro filme.

Aos 70, Attenborough se tornou Lorde, como se em algumas festas no e ao redor do Palácio de Buckingham, tivessem se impressionado com Gandhi, um tributo soporífico e nada ameaçador à não-violência, que alegadamente levou milhões às lágrimas e a consertarem seus rumos. Levou o prêmio de melhor filme, e hoje aproxima-se do mundo real como uma estação espacial abandonada  - eterna, cara e esquecida. Chorus Line - Em Busca da Fama não definiu o sapateado, e Um Grito de Liberdade fracassou em romper as forças do liberalismo político e da correção segura. Mas então veio Chaplin, um desastre de conceito e construção tal, que poucas pessoas poderiam condenar ou evitar. Não que Robert Downey Jr. seja sua falha: ele personificou Chaplin com destreza e coragem. A culpa tinha de ser de Lorde Attenborough, cujos olhos orgulhosos, mas cegos, não perceberam que pequeno louco notável Chaplin era. E em todos esses monótonos anos de feitura de respeitáveis épicos, o ator Attenborough nos tem sido sonegado - exceto por The Human Factor [O Fator Humano] (80,  Preminger) e Jurassic Park [Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros] (93, Steven Spielberg).

Após Chaplin, Terra das Sombras foi um prazeiroso alívio, um melodrama bem realizado para pessoas letradas, energizado por Debra Winger e Anthony Hopkins (há muito um favorito de Attenborough). Foi Hopkins que proporcionou interpretação tão hiper-ativa como o ventríloquo assombrado de Um Passe de Mágica, o melhor filme de Attenborough. Um Passe de Mágica também nos lembra do diretor como ator: atraído pelo assustador, como testemunha em O Estrangulador de Rillington Place, Farsa Diabólica, e O Pior dos Pecados

Após a edição de 1994, senti que talvez tivesse sido duro com milorde - afinal, ele foi o diretor do time de futebol Chelsea. Então resolvi ser mais gentil - e ele fez No Amor e na Guerra e O Guerreiro da Paz! Como ator, interpretou Kriss Kringle in Miracle on 34th Street [Milagre na Rua 34] (94, Les Mayfield) - por que ninguém pensou em chamar Attenborough para o elenco de The Edmund Gwenn Story (***)? Como o embaixador inglês, visível somente na versão mais longa de Hamlet (96, Kenneth Branagh); E=mc2 (96, Benjamin Fry); como Cecil em Elizabeth (98, Shekhar Kapur); The Railway Children (00, Catherine Morshead****); como Magog em Jack and the Beanstalk: The Real Story [João e o Pé de Feijão] (01, Brian Henson); Puckoon (02, Terence Ryan).

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Cinema. Nova York: Alexander A. Knopf, 2014, pp. 122-24. 


(*) N. do E: Falecido em 2014.

(**) N. do E: Acrônimo para a, muitas vezes citada por Thomson, tradicional Academia Real de Arte Dramática britânica, Royar Academy of Dramatic Arts. 

(***) N. do E: Evidente brincadeira de Thomson, já que não existe tal filme. Refere-se ao ator ter vivido um papel na primeira versão de Miracle on 34th Street, que foi interpretado por Attenborough na versão de 1994, e talvez exista uma provável semelhança física entre ambos. 

(****) N. do E: o nome da diretora se encontra grafado incorretamente em Thomson como Moorehead. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar