Filme do Dia: Vida Privada (1962), Louis Malle

 


Vida Privada (Vie Privée, França/Itália, 1962) Direção: Louis Malle. Rot. Original: Jean Ferry,  Louis Malle & Jean-Paul Rappeneau. Fotografia: Henri Decaë. Música: Fiorenzo Carpi. Montagem: Kenout Peltier. Com: Brigitte Bardot, Marcello Mastroianni, Nicolas Bataille, Jacqueline Doyen, Eléonore Hirt, Ursula Kubler, Gregor von Rezzori, Dirk Sanders, Antoine Roblot, Simonetta Simeonirest.

Jill (Bardot) é uma anônima modelo que, após uma primeira tentativa no mundo do cinema, transforma-se em uma grande estrela internacional. Porém a fama faz com que a perda de privacidade a destitua de qualquer pretensão de levar uma vida normal. Angustiada, deprimida e confusa, ela abandona o ambiente do cinema e procura refúgio disfarçada na casa de sua mãe na Suíça, com uma amiga, sem avisar a ninguém, mas quando lá chega não encontra ninguém. Abandonando a amiga também sem avisar, retorna para se encontrar com Fabio (Mastroianni),  com quem parte novamente para a casa da mãe e lá inicia um envolvimento amoroso, logo sendo descobertos pelos paparazzi. De personalidade volúvel e instável, Jill o agride por ter abandonado Carla (Kubler), sua amiga. Fabio a convida para o Festival de Spoletto, onde pretende apresentar uma grande montagem baseada em Kleist. Inicialmente confortável com a relativa tranquilidade do lugar, e com a amizade de Dick (Sanders), marido de sua mãe, logo Jill tem que permanecer novamente a maior parte do tempo entre quatro paredes, após chamar a atenção de um velho amigo Alain (Roblot), que também é fotográfo e noticia onde Jill se encontra. Certa noite em que se encontra jogando com Alain e seus amigos, Fabio chega do trabalho e pede a Alain que não mais venha até o apartamento deles. No dia da apresentação da montagem dirigida por Fabio, Jill se revolta contra seu “cativeiro” e afirma que tudo é culpa de Fabio, avisando que vai largar tudo. Enquanto discutem e se agridem, Fabio é chamado de volta às suas obrigações. Carla chega em Spoletto e pergunta a Fabio por Jill. Afirmando que ela não pode faltar a apresentação, vai a sua procura, enquanto Jill sobe ao telhado para observar incógnita a montagem. Porém enquanto observa é pega de surpresa pelo flash da câmera de Alain, desequilibra-se e cai.

Nesse drama que aborda todos os clichês relativos à fama, no que diz respeito a falta de privacidade, o tédio e a desimportância da personagem de Bardot, aparentemente autobiográfica, acabam transferindo-se para o filme como um todo, que escorre lento e aborrecido. Nem mesmo a criação de uma atmosfera, que consegue ser plenamente efetivada no início, contando com a ajuda do sofisticado trabalho de câmera e exuberante fotografia de Decaë e da bela música, conseguem ir além de um mero preciosismo estilístico tão vazio quanto a própria protagonista (aliás Bardot realiza uma interpretação em que fica patente todas suas limitações). Não há como não associar o previsível final com a morte da princesa Diana. Enfim, a descrição de crises existenciais, principalmente quando relativas a personagens tão sem brilho, raramente conseguem ir além de uma das próprias características da própria crise descrita: o tédio. Com relação a antropofagização da estrela por seu próprio público consumidor, tema sempre recorrente no imaginário ficcional, uma outra representação é o do assassinato da estrela de música folk em Nahsville (1975) de Altman e o “assassinato” do diretor-alter ego de Allen em Memórias (1980) por fãs. Louis Malle aparece em uma ponta como jornalista. MGM/CCM. 103 minutos.

 

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