Filme do Dia: Malombra (1917), Carmine Gallone
Malombra (Itália, 1917). Direção:
Carmine Gallone. Rot. Adaptado: a partir do romance de Antonio Folgazzaro.
Fotografia: Giovanni Grimaldi. Com: Lyda Borelli, Amleto Novelli, Augusto
Mastripietri, Amedeo Ciaffi, Francesco Cacace, Consuelo Spada, Giulia
Cassini-Rissoto, Berta Nelson.
Marina de Malombra (Borelli) vai viver
no palacete do tio, o Conde Cesare (Mastripietri), após se tornar órfã. Ela ocupa
o quarto que pertencera a falecida mãe do Conde, Cecilia. Uma vida praticamente
isolada a faz ter como principal fonte de diversão fantasiar sobre a figura da
falecida Cecilia, com quem passa a se identificar cada vez mais, ao ponto da
brincadeira se transformar numa perigosa obsessão. Tenta-se arranjar um
casamento dela com o Conde Salvador (Cacace), mas ela pretende que Corrado
Silla (Novelli) seja a reencarnação do
amado de Cecilia. Esse, no entanto, volta seus olhos para jovem Edith (Spada),
filha do funcionário que é o braço direito do Conde. Cada vez mais atormentada
por suas fantasias, Malombra assassina o conde e, quando sabe que Corrado não é
quem imaginara que fosse, mata-o.
Mais do que em sua versão sonora
(dirigida por Mario Soldati, em 1942), o filme consegue evocar que a identidade
percebida por Malombra em Cecilia sela também o passaporte para uma
identificação no papel da exclusão feminina ao longo de períodos históricos
distintos, sendo a histeria e loucura suas únicas formas de resistência. Algo
que os cacoetes dramáticos do período estabelecem de forma bem menos ambígua
que na interpretação naturalista e discreta de Isa Miranda. De todo modo, o
filme consegue trabalhar de forma bem mais sintética sua narrativa, não fazendo
com que a subtrama ganhe a proporção que obteve na versão posterior e
referindo-a apenas enquanto passaporte para a rejeição de Malombra por seu
amado. Tal opção também privilegia um foco quase exclusivo sobre a figura de
Malombra, encarnada por Lyda Borelli, uma das grandes divas do cinema mudo
italiano, que abandonaria sua breve carreira no ano seguinte, após se casar. A
encenação excessiva de todo o sofrimento através de gestos físicos, mais que de
artimanhas de introjeção psicológica, talvez acabe se adequando melhor à
proposta romântica de sua obra literária. Falta a ironia e auto-consciência na
protagonista em relação a sua personificação sonora e as mortes que Malombra
provoca são percebidas de forma mais gratuita enquanto mera conseqüência de sua
própria loucura, e não revolta desesperada contra um mundo opressor masculino.
Gallone possui um bom olho para suas locações e não falta sequer uns breves
momentos que pretendem apresentar danças folclóricas e uma vitalidade de
expressão por parte dos populares que é vedada a inclusão da aristocracia,
sobretudo em sua figura de mulher. Ganha também ao dilatar o processo de
adaptação de Malombra ao seu novo ambiente em detrimento da trama sobre a sua
futura união. Borelli surge deitada de forma langorosa no barco que atravessa o
lago, quase como uma entidade cujo erotismo não consegue ultrapassar os limites
do próprio corpo, desafiadora e ao mesmo tempo segura de sua condição
privilegiada, segurança que perderá por completo ao se apaixonar. Società
Italiana Cines. 75 minutos.
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