The Film Handbook#203: Robert Wise
Robert Wise
Nascimento: 10/09/1914, Winchester, Indiana, EUA
Morte: 14/09/2005, Los Angeles, Califórnia, EUA
Carreira (como diretor): 1944-2000
Mesmo nunca tendo encontrado um estilo cinematográfico pessoal ou revelado um gosto por qualquer gênero ou tema em especial, Robert Wise realizou uma série de filmes que podem ser descritos enquanto entretenimento acima da média. Ele foi, na verdade, um sólido e consciente artesão e um fluente contador de histórias, afortunadamente livre de grandes pretensões.
Wise iniciou sua carreira no cinema em 1933, enquanto assistente de montagem na RKO. No início dos anos 40 já havia realizado a montagem de produções ambiciosas tais como O Corcunda de Notre-Dame/The Hunchback of Nôtre Dame, e O Homem Que Vendeu a Alma/The Devil and Daniel Webster, de Dieterle, e Cidadão Kane/Citizen Kane e Soberba/The Magnificent Ambersons, de Welles (o último remontado na ausência do diretor). Porém foi quando estava trabalhando para Val Lewton que realizaria sua estreia como diretor, assumindo (quando Gunther von Fritsch se atrasou com o cronograma), A Maldição do Sangue da Pantera/The Curse of the Cat People>1, criativa história de uma infância envolvida em solidão, medo e fantasia. Não menos atmosférico foi O Túmulo Vazio/The Bodysnatchers, um macabro filme produzido por Lawton ambientado em uma Edimburgo dos anos 1830 imaculadamente recriada e, em 1948, com o estranho western de feições noir Sangue na Lua/Blood on the Moon, foi capaz de realizar sua entrada nos filmes-A.
Ao longo da próxima década Wise demonstrou ser um diretor prolífico em muitos gêneros diversos, alternando programas rotineiros com filmes que transcendiam as limitações de roteiro e orçamento, através de ritmo lento, interpretações fortes e um senso aparentemente intuitivo de onde melhor posicionar a câmera. Punhos de Campeão/The Set-Up>2 é um clássico drama de boxe, sua tensão derivando da dignidade devastada de Robert Ryan, sendo o tempo diegético correspondente ao tempo real, e um retrato autenticamente noir de personagens decadentes que habitam um circuito de luta pequeno. Filmes posteriores dignos de nota incluíam O Dia em que a Terra Parou/The Day the Earth Stood Still (uma incomumente inteligente parábola de ficção científica), Um Homem e Dez Destinos/Executive Suite (intrigas em uma agitada sala de reuniões), Marcado pela Sarjeta/Somebody Up There Likes Me (um segundo filme de boxe, com Paul Newman em grande forma como Rocky Graziano), Quero Viver!/I Want to Live (um admiravelmente desenvolvido melodrama contra a pena de morte com Susan Hayward como vítima no corredor da morte, protestando sua inocência até o final) e Homens em Fúria/Odds Against Tomorrow (um pessimista suspense sobre um assalto, completo com um ataque sobre as loucuras racistas e um excelente uso das locações nova-iorquinas). Na época, entretanto, Wise já havia se tornado bem sucedido o suficiente para se tornar seu próprio produtor, embarcando em uma série de produções de prestígio de orçamentos mais generosos.
Co-dirigido com o coreógrafo Jerome Robbins, seu Amor, Sublime Amor/West Side Story tropeçou nas más escolhas para o elenco e em seu compromisso esquizofrênico com realismo discreto de rua de aparência ultra-estilizada. De longe mais satisfatório foi Desafio do Além/The Haunting, um retorno ao horror sutilmente psicológico dos anos de Lawton, no qual uma casa, tida como habitada por uma assombração, rouba o filme do grupo de neuróticos e céticos lá reunidos. Porém, de longe o maior sucesso de Wise foi A Noviça Rebelde/The Sound of Music>3: não somente ele conseguiu evitar o pior, a excessiva sentimentalidade prevalecente em histórias de similar apelo como, através de locações fotográficas suntuosas e montagem imaculada e fluida, seu profissionalismo certeiro e clássico garantiu que o filme parecesse menor que de fato era. Infelizmente o mesmo não pode ser dito do filme de guerra O Canhoneiro do Yang-Tsé/The Sand Peebles nem tampouco de A Estrela/Star! um musical biográfico de Gertrude Lawrence levemente simpático que tentava, em vão, repetir o sucesso de Julie Andrews em A Noviça Rebelde. Porém O Enigma de Andrômeda/Andromeda Strain foi uma ficção científica forte e superior sobre cientistas batalhando para isolar e destruir um mortal vírus extraterrestre; e apesar de O Dirigível Hindenburg ter sido um pesado, mesmo que excepcionalmente polido, filme-catástrofe, As Duas Vidas de Audrey Rose/Audrey Rose proporcionava um intrigante suspense sobrenatural, à moda antiga e livre de sangue e violência, no qual uma garota de doze anos é possuída pelo espírito de outra morta em um acidente de carro. A seguir, Wise voltou sua atenção para o aparato de alta tecnologia do medíocre Jornada nas Estrelas: O Filme/Star Trek: The Motion Picture.
A melhor obra de Wise revela que a eficiência técnica, e sensibilidade para os desempenhos do elenco, ritmo e ambientação podem resultar em um cinema grandemente assistível e, mesmo memorável. Ao mesmo tempo, sua carreira como um todo oferece evidências que o profissionalismo precavido e anônimo é sempre improvável de ser responsável pela criação de grande arte.
Cronologia
Comparado com outros diretores que trabalharam para Lewton, Wise é menos criativo que Tourneur e mais fluente que Mark Robson. Embora seu estilo seja bastante diverso, em termos de sua modéstia e inconstância quanto a perícia, pode ser vinculado a figuras como Curtiz, Dieterle e Henry Hathaway.
1. A Maldição do Sangue da Pantera, EUA, 1944 c/Simone Simon, Kent Smith, Ann Carter
2. Punhos de Campeão, EUA, 1949 c/Robert Ryan, Audrey Totter, George Tobias
3. A Noviça Rebelde, EUA, 1965 c/Julie Andrews, Christopher Plummer, Eleanor Parker
Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp.319-20.
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