Filme do Dia: The Last Black Man in San Francisco (2019), Joe Talbot

 


The Last Black Man in San Francisco (EUA, 2019). Direção: Joe Talbot. Rot. Adpatado: Joe Talbot & Rob Richert, a partir do conto de Talbot & Jimmie Fails. Fotografia: Adam Newport-Berra. Música: Emile Mosseri. Montagem: David Marks. Dir. de arte: Jona Tochet & Olivia Kanz. Cenografia: Elena Nomennsen. Figurinos: Amanda Ramirez. Com: Jimmie Fails, Jonathan Majors, Danny Glover, Tichina Arnold, Rob Morgan, Mike Epps, Finn Wittrock, Thora Birch, Willie Hen, Jamal Trulove.

Jimmie Fails (Fails) vive com um amigo, Mont (Majors) e o avô desse (Glover), de forma um tanto improvisada, mas sonha em conseguir um antigo sobrado, em uma área relativamente nobre de San Francisco, que jura ter sido construído pelo seu avô.

O que se inicia e transcorre como uma lufada de oxigêno em meio a produção independente norte-americana de sua época, dada a criatividade visual que traz um charme ao complexificar aparentemente sua história, algo destituída de densidade, vai infelizmente se afunilando em um corredor da morte no qual o sentimentalismo  se torna perigosamente asfixiante. Uma evidente crítica a gentrificação de uma cidade, cujo passado de meca hippie (ao som do hino da época San FranciscoBe Sure to Wear Some Flowers in Your Hair) se escuta no momento em que o herói se depara com o cartaz da imobiliária. Tal gentifricação também se traduz na exclusão (crescente?) dos negros das áreas valorizadas, na morte de um conhecido dos tempos da infância sofrida no orfanato de Fails, sobre quem Mont escrevia uma peça. Que esse não seja mais que um passaporte para uma catarse dramática envolvendo a morte do personagem que a inspirou, soa como indesejado reflexo das próprias pretensões do filme, cuja fotografia e iluminação magníficas ajudam a transcender qualquer leitura realista pura e crua. O que se ergue no local desse realismo, por mais questionável que seja, é dotado de um lirismo agridoce, que encontra boas soluções e outras nem tanto – a gangue da rua soa um tanto forçada, por exemplo. Fails, que encarna a si próprio, deve excavar em muito de sua própria experiência, e teve sorte em encontrar em Talbot, em seu longa de estreia, alguém que deu formato visual interessante as suas inquietações, em sua persona com um que de anjo que escuta as dores e reclames dos transeuntes ruas afora, numa versão longe da literalidade de um Asas do Desejo; aliás, numa das poucas intervenções sobre o que escuta, seu papel é menos o de acolher que o de criticar o comentário crítico da moça sobre a cidade. O filme que Mont narra ao seu avô na televisão é Com as Horas Contadas (1949), de Rudolph Maté, do qual apenas ouvimos, como o velho, o aúdio. Seu título dialoga de forma bem humorada - e incorporando claro comentário social/racial  -  com o universo da ficção científica.  A24/Long Shot Features/Plan B Ent. para A24. 121 minutos.

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